17 de março de 2009

bootie-call

Cenário:



1. Veeeeeeeeeento, muito vento, num dia de calor.


2. Eu a subir a minha rua, de vestido rodado (vermelho), a falar ao telefone com um serviço de apoio a clientes que me trata por "tu".


3. Preciso de ver a informação que está numa das quatro folhas que trago na mão, dobradas em três.





Apoio ao cliente (AC) – ...blá blá blá whiskas saquetas blá blá blá... Podes então dizer-me o número de conta?



Eu – Sim, só um momento... Tenho de ver aqui nestas folhas…




Passam-se quatro segundos... Bolas, esse número está na terceira folha, penso. Esmago o ombro contra a orelha para segurar o mobile e poder trazer as mãos livres para menear as folhas, mas o meu mobile é fininho e vai escorregando devagarinho.



Eu – Ah, está aqui. É o 307... (mobile a escorregar, acto reflexo de tentar apanhá-lo, folhas a voar pela minha rua...) Porra! Ehhh, desculpe. Dê-me só mais um momento. É que agora voaram-me as folhas e...



(Como se ele, do outro lado, a tomar chá, a comer chamuças e a ver um filme bollywoodano, com os pés em cima da secretária, numa qualquer cidade da Índia, quisesse saber que raio se passa deste lado...!)






[SNAPSHOT]
Este é o momento que vale a pena reter. De repente o cenário é este:


Eu, a subir a rua, com a mão esquerda definitivamente colada ao mobile senão ele cai. Três das quatro folhas de papel tridobradas a voar. (Já referi que estava muuuuuito vento?) Vestido rodado ganha vida. Pareço daqueles bonecos insuflados que abanam os braços, à beira da estrada... só que os "braços" são o meu vestido. Eu a correr, infrutiferamente, em espiral atrás das ditas folhas. O vestido a esvoaçar-me, em todas as direcções, o suficiente para mostrar várias vezes o biquíni. Mão direita, insegura, tenta agarrar o vestido e prendê-lo entre as pernas. Prendo-o. Mas com ele preso não posso correr atrás das folhas. Tento, mas pareço um pinguim aflito pra ir fazer xixi, a fazer um ritual de atabalhoado de acasalamento que entretanto o faz perder o sonar!



Paro por meio segundo. Penso seja feita a Vossa vontade e fico quieta, deixando que o caos do universo chegue a um consenso e decida quando é que basta de me ver fazer figuras tristes. No meio disto tudo, o rapaz do outro lado da linha...




AC – Está tudo bem? Olha, se quiseres podes dizer-me o número de contribuinte.



Eu – (vai pró caralho! Eu tenho à vista um biquíni brasileiro que deixa muito pouco à imaginação e estou numa rua [NA MINHA RUA] entre um BES envidraçado apinhado de gente e um ciclo preparatório no intervalo grande. Que parte de "rabo-ao-léu" é que precisas que te explique?!?! Não podias ter dito isso antes?!?!) [voz] Ah... ok, número de contribuinte. Pois, esse sei de cor: é o 2********...


AC – Obrigada. Podes só aguardar enquanto verifico os dados?




Eu – POSSO! Claro que posso. (Obrigada, Deus, por trazeres ordem ao caos!)




Nisto, olho para a esquerda e vem de lá o carteiro a subir a rua. Obrigada outra vez, Deus, por mandares o carteiro.



Faço o sorriso de donzela em apuros, levo a mão direita ao vestido num acto de pudor que não tenho mas que achei adequado à situação... e também precisava que o carteiro se concentrasse nas minhas folhas, não nas minhas pernas.





O rapaz, provavelmente bom aluno em educação física (ao contrário desta nulidade que vos escreve) e concerteza [esta palavra não existe, mas devia] uma referência nos Testes de Cooper realizados pelo Prof., correu como se disso dependesse a sua vida e apanhou-me as folhas todas, não sem antes deixar cair, ao dobrar-se, uma resma de cartas que transbordavam da mala que trazia à tiracolo.







Depois de metidas as cartas novamente no saco (ou seja, "re-metidas" no saco), vira-se triunfante para mim, enche o peito, expira profundamente e vem na minha direcção trazendo de bónus um sorriso branquinho e alinhadinho de quem não tem medo do dentista.





Eu – Ah, muito obrigada.





Recebo as folhas de papel e enfio-as logo debaixo do braço esquerdo. Aproveito e desligo a chamada, uma vez que o outro ainda está a "verificar os dados". Penso se calhar já podia ter desligado antes deste circo todo acontecer...





Carteiro – Está mesmo muito vento hoje, não é...?




Eu – É verdade... (NO SHIT!!!!! Devias trabalhar no Instituto de Meteorologia e Geofísica, oh Einstein!)





Depois caio em mim e mudo o semblante para uma cara agradecida.




Eu – Obrigada, sim? Estava um bocado aflita. Se não fosse o senhor... Bem... Obrigadíssima e tenha um resto de bom dia. (Se tu fingires que não viste eu também posso fingir.)




Estico a mão direita, dou-lhe um aperto de mão grato e envergonhado, e retribuo o sorriso agradável que ainda traz posto.



Viro costas e continuo a subir a rua. Sinto-me mínima, sinto-me um micróbio e ainda assim (ou talvez por isso) endireito as costas e lá vou eu: um micróbio de vestido vermelho que pensa ainda bem que trago estes óculos que tapam 70% da cara...


28 comentários:

J. Maldonado disse...

Da próxima, a fim de evitares situações embaraçosas desse tipo, ou não usas vestido ou bikini... ;)

Alice disse...

Hahahahahahaha...muito bom esse textos, é muito engraçado como o que dizemos nunca é o que pensamos.

Beijos.

Blossom disse...

ahahahahah, desculpa, mas o teu texto está hilariante! apesar do vento ;)

Ana disse...

heheheh grande aventura! O melhor é começares a consultar sempre as previsões meteorológicas antes de voltares ao vestidinho rodado:-)

afectado disse...

Lindo! Se soubesses o que eu me ri enquanto te lia hehe

E já agora o que imaginei também. Bem, mas isso é outra conversa... :)

Kiddo disse...

Aconteceu-me algo do género o ano passado. Ia a correr para não perder o autocarro mas, entretanto, a mala que levo ao ombro cai, entorna tampões, carteira, telemóvel, chaves.. tudo... e para melhorar, as calças que tinha vestidas (que me estavam largas [e continuam, que eu não engordei, apesar de continuar gorda]), caem-me pelo cú abaixo assim só para gozarem comigo. Eu tinha cinto, claro está, mas isso não impediu que a multidão que estava estacionada no terminal dos autocarros visse metade do meu rabo numas cuecas do mickey.
Foi giro, foi giro.
Mas o teu "filme" foi bem melhor :p

de Marte disse...

Maldonado,
acho que vou começar a usar calções de licra por baixo! Que tal? Deve mandar um cenário... Ui ui!

de Marte disse...

Oh Alice, é que é mesmo verdade!! Eu da boca para fora não digo uma asneirinha. Já da boca para dentro... ui! Sou politicamente incorrecta, sou explosiva e preconceituosa. Sou uma estúpida. O que me salva é que entre um e outro estado se encontra um meio-termo que resulta muito bem! :)

e às vezes, quando estou a ouvir alguém muito muito chato e só me passa pela cabeça gritar em plenos pulmões "OPAAAAAH CAAAAAAAAAAAAALA-TE!!!!!!!!!"? Mas aí às vezes até tenho medo que me saia som sem querer...

de Marte disse...

Blossom,
devias experimentar um dia! :P
Depois logo me dizias se é hilariante!
O engraçado é que me rendi num acto de "ai é? o intuito hoje é ver-me o rabo? que seja. vá, toma lá e quando Te fartares acalma lá o vento!" :)
Se a ventania desenfreada tivesse continuado ía ter de mudar de estratégia, mas ainda bem que passou tudo. ufa....

:)

kisses

de Marte disse...

Hei Ana,
O problema é que aqui na rua faz uma corrente de ar desgraçada... :D Ou deixo de ir à rua ou levo as mãos livres para poder acudir às saias e vestidos. Agora, telefonemas da rua a apoio ao cliente? Jamé!!!!

de Marte disse...

Cum caneco, homónima!!!

Também não deve ser fácil esse teu desporto de correr para o bus com calças largas! Com o "plus" de trazeres o mickey colado à bunda!!! Espectáaaaaaaaaculo.

E afinal, apanhaste ou não o bus??

de Marte pra Mars, kisses

de Marte disse...

Oh Afectas,
acho que te saltei por cima! :P
Mas foi sem querer.

E pois olha... isso do que te riste enquanto me leste mais o que pensaste é exactamente aquilo q sucede cmg. Umas coisas dizem-se, outras nem por isso! :P

Foi um verdadeiro circo, aquilo lá fora. Agora já passou. Mas o meu dia ontem foi estranho... (dpx conto nuns posts!) :P

Kiddo disse...

Epa, acreditas que vim cá ver se me tinhas respondido, li todos os comentários três vezes e fiquei fodida porque pensei que tinhas respondido a toda a malta menos aqui à je?
Qual não é o meu espanto quando vou, desinterassadamente, ler um tal de comentário dirigido a uma qualquer homónima, que nem me passou pela cabeça ser a modos que eu, tal não era a minha distracção enfurecida.
Prontes, e assim a modos que em resposta, consegui apanhar o autobus, sim senhores, porque (in)felizmente o parvo do motorista estava parado a rir-se das minhas figuras :D

Beijinhos abraços e muitos palhaços, conterrênea!

de Marte disse...

Oh melhér!!! Concentra-te!!!
Sim, MARS! TU!

MARS all mighty!!!

Puxa, achas q eu ia responder a toda a gente menos a ti? Tu pareces ser moça de me afiambrar um kick na boca para mais tarde recordar... :) nunca faria uma tal desfeita cósmica à minha homónima marciana.

Há vida em Marte!!! :)

E, retomando a tua história, qdo li a cena dos tampões voarem pra fora da mala, lembrei-me que na faculdade já tirei um baton do cieiro da mala e pu-lo em cima da mesa pq ainda andava à procura do mobile pra lhe tirar o som... um prof fica a olhar muito curioso para o baton que era, na verdade, o belo do OB-ama.
Cagar a rir! Acredita. Os tampões são embaraçosos, melhér! Mas não vivemos sem eles...!

(Já sem as cuecas do mickey...)

J. Maldonado disse...

Sugiro que uses uns calções de licra verde, pois certamente iriam combinar bem com o teu vestido vermelho rodado... :p
Ui, ui! :))

de Marte disse...

Sim, Sr. Comandante!
Estava mesmo a pensar usar um calçanito desses assim para o discreto...
(por acaso sou mais da onda dos "sans-culottes"...)
Olha, e mais sugestões assim bacanas, não? Assim, dessas, do séc. XVIII?

:P (nem parece teu, impingir culottes. Seu... seu... aristocrata!)

kiss

J. Maldonado disse...

Bacano, bacano era não usares cuecas, pois isso seria uma atitude altamente revolucionária e anti-burguesa... :p

de Marte disse...

Mas isto é o cabaret da coxa ou quê?!?! :)
Ainda não cheguei a esse patamar, Maldonado. (e se cheguei, n vou divulgar...)
Ainda tenho que passar pela fase de queimar os soutiens e tal. Como vês, estou a anos-luz!

kiss

J. Maldonado disse...

Uau, uma marciana púdica e conservadora! Não acredito, estou desolado! :D

de Marte disse...

Je suis désolée...

Eheheh

Oh homem, tu achas q eu vinha para aqui falar de saídas pra rua sem lingerie?
E dpx na rua vias uma tipa groooooossa, de cair pro lado, [com um ar meio esverdeado, é certo, mas um canhão] sem roupa interior e... reconhecias-me logo!!

Não podia ser. Uma pessoa a preservar o anonimato para depois ser reconhecida assim? Nãaaaa...

Sophia disse...

Muito bom!!! o que eu me fartei de ri!!!
Também tenho esse hábito... filtrar o que penso...

Kiddo disse...

Desculpa lá mas eu não vivo sem as cuecas do mickey! E a minha mãe volta e meia tem a bondade de me prendar com umas novas.
Mas a culpa é da oysho (passo a publicidade), que parece que não sabe ter mais colecções de cuecas sem serem daqueles ratos. É claro que eu podia mudar de "fornecedor", mas acho que já me habituei... lol

Epa dei uns gafes no outro comentário de que me envergonho! :x

de Marte disse...

Sophia, às vezes até é complicado manter a compostura, com os devaneios que se atravessam dentro da cabeça, não é? :P

Volta sempre.

Kisses

de Marte disse...

Mars, és sempre bem recebida nas tuas cuecas animadas. :)

beijinhoooooooos

afectado disse...

a associação do rato mickey nas cuecas é algo que não infantil :). quem teve a ideia de criar essas cuecas tem uma mente bem porca :D

de Marte disse...

mas quais gaffes, melhér?!?!?
nenhumas, pah. não vi nenhumas!

de Marte disse...

Eheheh,
Oh Afectado, mente porca? Porco era se aparecesse a Rata Minnie ou o Piupiu...
Isso sim, era rebuscado...

Summer disse...

Deixa lá...eu hoje saí dos provadores da H&M (e para o interior da própria loja) com as calças abertas...sim, não o fecho das calças, mas tudo...fecho, botão e cinto, tudo desapertado...

Óculos XL ...amo-vos!