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26 de novembro de 2010

{I'm out}

É tão fácil, tão fácil pôr uma pedra em cima de um assunto – de uma pessoa.


Fui chutada para canto.
Fui, e no canto permaneci, atónita. Ainda não sei de onde veio o que veio, ainda não compreendi porquê. Ao início parece que é impossível, que apenas não está a acontecer. Que é um sonho mau – e é, afinal, uma realidade má.
Mas ontem percebi como é fácil conseguir que as coisas não resultem. Basta não fazer nada. Uma saída, pessoas na noite. Sem tramas, sem teias, sem espinhas, seduzir é muito fácil. Começam os sorrisos, os risos, as perguntas inocentes. Inocentes como os toques, primeiro subtis.
Seguem-se as piadas, os encostos, a dança, os copos que se esvaziam sozinhos. Ainda as conversas que não são mais do que auscultações, itens das checklists que inadvertidamente tentamos verificar. Ou à força, não sei…

Toda a noite foi um teste, um ver até onde é que consigo ir, até onde me deixo ir. Ver se é isto o que preciso, se é disto, de atenção física que estou manca. E nem precisei de me esforçar grande coisa, bastou ir lançando charme sobre os três com quem estava. Só para alimentar o meu ego recentemente murcho. E ser alimentada por três é algo tentador. Se entretanto me apetecesse, era limitar-me a ir medindo afinidades e tentar perceber para que ombro pendia a minha cabeça, sem constrangimentos.
Com qual deles teria eu margem para brincar à minha vontade? Com o #1, o comprometido, que já encontrou a mulher da sua vida? Com o #2, que tem “um caso” recente? Com o #3, o playboy de corpo rijo, sorriso branco e alinhado, de 26 aninhos?

O comprometido, óbvio – o playboy tem muito jogo e eu não gosto de perder.
Dás-me boleia?”, pergunta o tonto do comprometido. “Tenho as mãos frias”, diz-me, pegando nas minhas. E daí ao “vamos lá a casa beber um licor fabuloso?” vai a distância de uma mão dada. 
Da tensão no elevador até ficarmos de narizes siameses na cozinha de casa dele vai a distância de uns olhares que se encontram e se amigam. 
Desvio a cara sempre que os seus lábios se aproximam perigosamente da área exclusiva dos meus, enquanto decidimos o que, afinal, beber. Estamos, de facto, a empatar, a engonhar
E é nestes segundos, nestes momentos e jogos de mãos que mora o click, o ponto de não-retorno. Se é para nos devorarmos, é aproveitar esta altura, em que a respiração denuncia um coração a bombear em todas as direcções. Todas. 
Se não é para o banquete, é aproveitar enquanto ainda não se tem contacto com essas direcções todas e evitar, assim, qualquer referência mental ou sugestão.


Ainda na cozinha, a olharmos para a garrafeira, faz questão de me abraçar por trás para que eu sinta, nas nádegas, as suas intenções – e são evidentes. Começa a desapertar-me o nó do cinto do casaco, doido por me lançar as mãos à cintura ou aos quadris, por debaixo do vestido.
Fecho o casaco.
- Vou andando. Adeus.
- Tens a certeza?
- Não. Adeus.

E é no carro, no caminho gelado das cinco da manhã, que percebo que é muito fácil, demasiado fácil, deixar tudo e deitar tudo a perder. Que «complicado» é gostar de verdade, ser de verdade, ter de verdade – e árduo é ser-se amigo, quando se é namorado.
Isto?, isto era só demasiado acessível, dado – descartável. Acordar com aquele tipo ao lado parecia inteligível, imediato: um tipo giro, interessante, divertido, boa conversa, melhor corpo. Seria uma experiência – algo para guardar, memorizar, até partilhar aqui, who knows? E vindo com namorada – great – porque isso garantia que não me chateava com telefonemas ou sms ou cafés.

Era tudo demasiado fácil.
E meaningless.
{I’m out}

24 de julho de 2009

stevie wonder date

A minha amiga que diz que eu sou uma oficina (isto fica para outro dia) foi ter um blind date, uma cafezinho à tarde com alguém de quem só ouviu falar. Um amigo dum amigo. Antes de ir, o telefonema:

Ela - Amiga, estou a ir tomar café com aquele. Aquele que vem cá para me conhecer. O que é que estás a fazer?

Eu - Estou a trabalhar… claro.

Ela - Num sábado à tarde?? Olha, mas eu precisava de ti. Se o gajo não for interessante e eu quiser vir-me embora mando-te uma SMS para me ligares. Assim eu digo que tenho uma emergência familiar e que tenho de ir embora.

Eu - Parece-me péssima ideia. Pelo modo como ele quis conhecer-te logo assim sem mais, já deve estar habituadíssimo a estas rotinas, estas deslocações para conhecer miúdas. E se ele for realmente desinteressante já viu esse filme da “emergência familiar” uma dúzia de vezes. Porque é que não fazemos antes assim: aguentas-te à bronca e bebes o cafezinho todo, uma vez que aceitaste o convite. Capice? Se não querias correr o risco, não alinhavas em blind dates. Sendo interessante ou não, fazes esse bem à humanidade de passar um tempo desinteressado – ouviste? “de-sin-te-res-sa-do” – com alguém. Achas-te capaz disso? E pronto… se realmente achares que ele é muito insistente ou só estúpido, nesse caso mandas-me um SMS que eu ligo. E aí vou eu ter contigo e fazemos o nosso típico “good cop / bad cop”! Ok? Estamos entendidas?

Ela - Ma’am, yes Ma’am.

(a verdade é que o cafezinho durou dezoito horas, das 2pm às 8am. Tudo isto existe, tudo isto é triste… J)

13 de junho de 2009

...pedaço de bom caminho...

Todos os anos faço umas férias em família. Os meus pais, eu, o casal amigo dos meus pais e os dois filhos destes. Como nos conhecemos desde sempre e fazemos praia juntos todos os anos, este ano era só mais um. Sempre andámos à-vontade uns com os outros, fomos cúmplices nas saídas, encobríamos as escapadelas uns dos outros e sempre dormimos os três juntos. Sempre fomos tratados, quer pelos meus, quer pelos pais deles, como irmãos.


Naquela noite o irmão mais velho ia receber a visita de uma amiga recente que estaria de passagem ali por perto, em trabalho, e aproveitaria para ir tomar um copo e passar um bocado com o seu amigo. O outro irmão e eu ríamos que nem tontos, patrocinados por Cosmopolitans que pareciam ter sido preparados pelo próprio Tom Cruise em tempos que já lá vão.

Comecei a ficar cansada da noite e pedi ao mano mais novo para irmos andando. Ele também já estava cansado. É daquele tipo de homem que começa a rir e a dizer parvoíces quando fica com sono. Fica com os olhos amendoados, semicerrados, e ri-se por razão nenhuma. Íamos andando para casa; era eu que conduziria o carro dele. Apesar de ser novinho o rapaz conduz um descapotável. Como a noite estava quente (e ele fez questão disso) fez deslizar a capota e lá seguimos, eu arrepiada, ele feliz da vida, até nossas casas. A minha e a dele são paredes meias, mas o pátio e jardim são comuns, pelo que ficámos por ali recostados num sofá de exterior– daqueles de dossel que agora toda a gente insiste em ter… e ainda bem.

Ficámos a reviver memórias, a abafar o riso para não acordar os pais de ninguém e não ter de ouvir queixas durante o pequeno-almoço. Comecei a sentir frio e perguntei-lhe se queria subir comigo para me agasalhar. Disse-lhe, inclusive, que poderia dormir em nossa casa, como várias vezes fizera. Anuiu. Ficámos no meu quarto a falar e entretanto saí para me equipar para dormir. Top, calças de algodão, meias e caneleiras. Esta é a indumentária para um pré-sono. Enfiei-me na cama e continuámos as nossas conversas. Reparei por esta altura que, devido aos quatro anos de idade que nos separam, poucas vezes estivemos tão próximos. Sempre falei muito mais com o irmão, exactamente da mesma idade que eu, nascido 5 dias antes de mim. (Ninguém me tira da ideia que as nossas mães combinaram!)

Disse-lhe para vir para dentro dos lençóis porque a noite começava a arrefecer. Apagámos a luz e fomos dormir.


Pensava eu que íamos dormir. Passados longos minutos eu ainda não dormia. Chamei-o baixinho, pelo nome e soube que também não adormecera. Comecei a acariciá-lo na cara e nos ombros, para chamar o sono, e senti que estava a saber-lhe (tão) bem (como a mim) aquela partilha de mimo. Mantivemos a conversa em tom informal, sobre as coisas do passado e do presente. As mãos dele começaram a retribuir os gestos que eu lhe desenhava no corpo. Aproximei-me dele e não resisti a começar a dar-lhe pequenas dentadas nos ombros, na nuca, inclusive na cara. De barriga virada para baixo ele inspirava golfadas de ar em ritmos coincidentes com as trincas que lhe dava.


Os meus pais estavam a 30 cm de parece dali.



Não tive coragem de mimar o meu amigo como a minha libido pedia. Num acordo tácito mantivemos as mãos em zonas permitidas e as bocas longe uma da outra. Adormecemos de mão dada, não sem antes termos executado uma dança de carícias nas mãos, braços, cabeça e costas um do outro. Carícias dignas de um caso amoroso… utilizadas num caso amistoso. Durante a noite senti vontade de o acordar com um beijo na boca. Presumo que terá sentido o mesmo.


Ao amanhecer ouvi o lufa-lufa matinal da rotina dos meus pais e do pequeno-almoço que seria servido no jardim comum. Ao abrir os olhos senti como que uma vergonha, uma inibição por tudo o que se tinha passado durante a madrugada, no escuro. Ele continuava a dormir e não o acordei. Tomei banho e vesti-me. Fui ao jardim e vi a mãe dele sentada com a minha, à espera que servissem o pequeno-almoço. Cumprimentei as duas, disse que o mano mais novo dormira lá por casa e que estava ainda adormecido, ao que a mãe me pediu para o acordar pois tinha compromissos para essa manhã e não poderia atrasar-se muito mais.


Voltei ao quarto, ainda escurecido e não deixei os olhos habituarem-se à escuridão. Conheço bem os cantos do quarto e não demorei a estar de joelhos na cama, encostada à sua nuca, a dar-lhe os bons dias. Senti o sorriso a formar-se e já conseguia ver o branco dos seus perfeitos dentes. Dei-lhe um demorado beijo na bochecha e disse-lhe: “Anda, dorminhoco. A tua mãe já te chamou para ires tomar o pequeno-almoço no jardim.”

Sorriu novamente, puxou-me para si e deixando os meus lábios a poucos milímetros dos seus disse-me que eu cheirava bem. Inspirou-me a cara, o cabelo, o pescoço. Deu-me um abraço a que correspondi e soltou-me depois, dizendo que desceria dentro de poucos minutos. Fiquei com vontade de o amar ali. Forte, afastei-me, soltando-me da mão dele que ficaria esticada, no ar. Nunca cheguei a conhecer o sabor dos seus lábios.

14 de fevereiro de 2009

...e entrar no espírito do dia... :)


(Ninguém me tira esta cisma de ja ter visto esta tal de "Clementina" verdalhona e magricela sem cabeleira nem aquelas roupas... Vou ligar ao Cocas a ver se sabe de alguma coisa...)

19 de dezembro de 2008

olhó nougat! hoje são três de borla...

Ena pá!


Não há fome que não dê em fartura! Tenho alguma coisa escrita na testa? [Provavelmente tenho, mas nos meus espelhos não aparece].


Desamparem-me a loja, por favor!


Isto deve ser da época natalícia.


“Toma lá estes presentes”, deve ter dito o menino Jesus – sim, porque para mim não há cá barbudos barrigudos! É o menino que desce da manjedoura onde passa, estirado, 364 dias/ano, mostrando-se ao mundo e subornando os fiéis com modestos presentinhos. E nós, tontos, portamo-nos bem durante todo o ano por causa de bombons, coisas pró enxoval e ricos envelopes?!


E que belos presentes antecipados este ano, oh Jesus!? Deves andar com as prioridades trocadas. Ou tens uma secretária muito pouco eficiente, porque o post-it com esse pedido já criou mofo!!! Se eu fosse esperar, o melhor era fazer-te companhia nas palhinhas!


Agora não estou a precisar de homens. Agora podia ser outra coisa qualquer… mais material. Sei lá o quê. [Mas algo que dê para pôr debaixo da árvore e abrir na noite de consoada em que os adultos vão à missa do cocorócocó e os jovens (onde me incluo) ficam a ver o “Home Alone” pela octogésima quinta vez].


Agora… não me dês tipos a magote! Ao quarto de dúzia é “mai barato”?


Um amigo dum amigo já apelou ao toque. O excesso de toque por desconhecidos inquieta-me. Se houver anuência epidérmica desencadeio eu o processo, não a outra pessoa!! Afinal quem é que manda?


Outro, agora diz que está apaixonado. Ah e tal, os sentimentos. O quê? Mas conheces-me de algum lado? Sentimentos desses? Vá, chega-te para lá! Não sou a mãe dos teus filhos, lamento. Nem sei se vou ser dos meus! E não estou disponível para compromissos. É exactamente deles que pretendo proteger-me. Pretendo ficar imune durante uns tempos, para desintoxicar. Já tomei a vacina e tudo. Como não estava disponível no Plano Nacional de Vacinação saiu-me do bolso [leia-se “lombo” ou “pêlo”]. Ainda estou a pagar por ela… às prestações.*


O outro é um conhecido de há praí cinco anos, de quando eu ainda era pita. Sazonalmente vai apontando na minha direcção a ver se me acerta com uma chumbada. Invariavelmente não. Mas como está aberta a época de caça, aquela estrela de cinema treina a sua pontaria.



“Pró Natal, o meu presente, eu quero que seja…


…a minha agenda, a minha agenda tururururu!”







*As minhas metáforas nem sempre são as melhores, mas fazem-me tanto sentido na cabeça que não as usar retirava metade da riqueza do meu pensamento. “Riqueza” ou “alienação”. Uma das duas.

4 de dezembro de 2008

Os reis moram nas barrigas...

Pensas que tens o Rei na barriga, é? (Bem, pelo menos assim a olho nu eu diria que cabia aí o Belchior!!)

Há pessoas que me tocam no sistema nervoso central desligando aquele interruptor chamado “pachorra”. Perco as estribeiras com a falta de educação dos tiozorros, daqueles que se acham tocados pela graça divina e, portanto, inspirados, iluminados. Acabo por ter pena deles, mas isso é só algum tempo depois. Quando me pisam os calos fico mesmo com a ira a saltar-me pelos olhos, como os raios que vemos nos desenhos animados.

E tudo isto porquê? Porque há quem se ache maior ou melhor que outras pessoas. Ou que ache que a sua opinião é mais válida. E que ainda fica ofendido por haver opiniões diferentes – que desaforo, alguns pobres humanos ousarem raciocinar!!!

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!!! (como é que se reproduz por escrito um grito?)

Não tolero. Lamento mas não tolero. A estupidez é ilimitada quando a mente é acanhada, mas ainda há pessoas estúpidas por opção. São ainda mais, e indesculpavelmente, estúpidas! Néscias! Estultas! Ineptas! Asininas!

Blhergh! Só me apetece vomitar-lhes em cima.

Tiram-me tão do sério que me sinto desconcertada por isso. Devia simplesmente ignorá-las, mas é mais forte que eu.

Quem não sabe conviver em sociedade, quem prefere amuar, quem se sente ofendido por existirem opiniões não-coincidentes com a sua… epah… que se foda!

A sério, isso com uma boa descarga sexual é capaz de ir ao sítio. Em vez de despejar nas outras pessoas, fá-lo com um falo! E assim desaparece-me da frente e eu fico momentaneamente feliz. Boa? Vais-te tratar? J

Amigas como dantes…!

(já estou aliviada!)

4 de novembro de 2008

rimmel

Trago o rimmel esborratado de todas as horas que passáramos a dançar e a rir.
Quando saímos juntas fazemos sempre asneira: abusamos no álcool, deixamos uns tipos aproximarem-se de nós e subornarem-nos com bebidas e usamos os nossos “alias”.

Ainda fazemos isto tal como quando tínhamos 18 anos e começámos a sair sem os tios chatos, sem as horas marcadas. Não achas que já tens idade para ter juízo?

Agora, passados tantos anos, estás noiva?

Eu devia ter desconfiado quando recebi este convite para sair. “Nós as duas, como nos bons velhos tempos!”, dizia a SMS!

Quando anunciaste que querias casar fiquei assustada: um tipo da night, a quem [em tempos] deras o teu nome falso e um número de telefone inventado? O gajo só podia ser estúpido em querer casar com a miss independence!

Foste-o, pelo menos, até ao dia em que te deixaste apanhar pelas malhas da paixão. Não tínhamos combinado que não nos íamos deixar arrebatar no matter what?? Quantas vezes nos prometemos eternamente solteiras até aos 35? Não era necessário despachares o assunto assim…

Ao contrário do que possa parecer estou muito feliz por ti, cabra. Não acredito propriamente na instituição “casamento”, mas acredito no desejo de ambos partilharem o vosso love com as famílias e os amigos.

E lá está, será eterno enquanto durar. É assim que faz sentido e é só assim que concebo as uniões.

Ainda temos, tu e eu, um fim-de-semana de reflexão juntas. Já daqui a uns dias vamos fazer uma escapadela à moda antiga. Foste tu que pediste e marcaste o weekend. Queres despedir-te de mim properly, certo? “De mim” como sinónimo da vida de solteira, da vida de mulher descomprometida e tonta. Despedir-te dos não-compromissos. Bem, talvez eu esteja a levar isto demasiado a sério por causa da minha gamofobia [J medo do casamento].

Estou feliz por ti, por vocês.

Talvez esteja triste por mim, por não viver iludida e feliz, com a ideia de ver a vida sentimental resolvida [e, portanto, fechada e-não-se-pensa-mais-nisso] e assim poder dedicar-me a outra coisa qualquer.

Merda, acho que vou chorar…

Agora o rimmel está a desvanecer-se totalmente e escorrem-me lágrimas pretas. Não me apetece de chorar, nem que seja assim, por bons motivos.

Este rimmel é tão resistente à água como tu às paixões.

(“Water resistant” my ass)!

25 de outubro de 2008

passé composé

No dia em que fomos apresentados (seria o meu futuro colega de trabalho) achei-o logo interessante. Tão interessante quanto é permitido a um tipo de aliança na mão direita.

Menos-mal”, pensei, “Sem compromissos agrada-me mais!”.

Poucos minutos depois falava-me da highschool sweetheart, de como se conheceram, da faculdade que fizeram juntos; até mencionou os planos: juntarem-se daí a dois anos, quando as carreiras de ambos estivessem consolidadas. Tive logo náuseas com aquela história. “Quem pensas tu que enganas? Deves ser fresco, deves!”

O olhar dele percorria-me toda durante vários momentos da conversa, o que me deixou irrequieta e lisonjeada.

Daí a poucos dias passaríamos a ser colegas e eu tinha de me habituar à sua presença constante, pelo que era melhor ser ponderada nos actos (e já agora, refreada nos pensamentos). Começámos por almoçar juntos quando tínhamos projectos comuns mas depressa deixámos de precisar desse tipo de argumento. Divertíamo-nos bastante no trabalho e discutíamos tanto as tarefas em que ambos estávamos envolvidos como aquelas que desenvolvíamos individualmente.

Creio que comecei a apaixonar-me por ele; creio que começou a apaixonar-se por mim. Deixámos a situação evoluir sem falarmos – nem que levemente – em assuntos comprometedores.

Como andámos a cortejar-nos mutuamente desde os primeiros dias, não tenho exactamente a certeza de onde e quando houve o “clique”; sei que um comentário levou a outro e em pouco tempo ficámos cientes do desejo que partilhávamos. Ambos “comprometidos” (oh God, como odeio esta palavra!) e a saborear alguma insatisfação a isso associada, o que aí vinha não foi inesperado.

Um dia estávamos a trabalhar juntos, fora de horas, e pedi-lhe que ficasse mais um pouco, pois precisava da sua ajuda. Sugeri que fechasse a porta do escritório. Percebeu de imediato o que vinha nas entrelinhas e isso ficou visível na sua face, subitamente sorridente. Baixou a cabeça e agitou-a de um lado para o outro, com os olhos fechados. Pensaria "No que é que me estou a meter?", como eu? Foi a primeira vez que nos beijámos. Entre beijos virou-me de costas para ele, encostou-me à parede e soltou-me o cabelo, cheirando-mo. Não houve nada de bruto, de sôfrego. Pelo contrário, íamos como que pedindo licença para fazer investidas, pequenas conquistas, ainda que fizesse questão de mostrar que me dominava, agarrando o meu cabelo com veemência. Os beijos eram longos, num estilo adolescente, daqueles que se apaixonam de verdade, e para sempre.





Entretanto, e passados sete meses, deixámos de ser colegas.





Havia passado muito tempo desde o meu último affair, exactamente com ele, o que me levava a crer que já não me lembraria do que era flirtar, do que se fazia ou dizia. Fui, como combinado, ter ao bar do momento, deixando-o previamente avisado: “tenho outro assunto pendente, marcado exactamente para a mesma hora”, o que me permitiria desaparecer em caso de pânico, seca ou outra hecatombe.

O meu vestido era perfeito: o corte "olha-para-mim-sou-a-mulher-mais-apetecível-deste-spot"e a cor, azul-petróleo, revelavam sobriedade e pureza – exactamente o oposto das minhas expectativas ébrias e lascivas.

No cumprimento fomos demasiado formais, o que não traduzia o conhecimento íntimo que mantivéramos três anos atrás, no escritório; mais que isso, não era denunciável que andássemos a trocar telefonemas e mensagens quentes há quase dois meses, a partir daquele contacto profissional que ele não pudera delegar e a que eu não resistira atender.

Desde então não havíamos combinado o encontro por culpa minha, que acreditava que já não sabia namorar. A história do cortejo e dos rituais de acasalamento parecia-me tão longínqua como o Alasca.

Quando cheguei tive dificuldade em reconhecê-lo. Imaginei que cairia para o lado, que coraria, que não teria reacção. Pensara muito nele desde que tínhamos seguido caminhos profissionais distintos, o que aguçara a minha curiosidade em saber que efeitos tinham tido nele o casamento e a paternidade, etapas que fez questão de mencionar no tal telefonema "profissional" que nos fizera entrar de novo em contacto. Imaginei-o, portanto, mais maduro e mais doce – um pai.

Quem encontrei foi um tipo diferente do meu ex-colega/ex-amante. Não era sequer parecido. As memórias que fui construindo foram muito benevolentes, favoreciam-no muito e a realidade fora bastante menos aprazível.

A vida de casado assentava-lhe bem, ainda assim; o papel de pai também, provavelmente, mas ser "a outra" deste tipo não era para mim. Este não era o meu filme. No way!

Percebemos imediatamente que os desejos relativamente ao outro haviam sido corrompidos pelo tempo, defraudados pelas recordações. Ele procurava um escape e eu um tipo que já não existia. As altas expectativas cultivadas durante os recentes contactos (carregados de desejo) via telemóvel não deixaram realçar as nossas muitas divergências. Até aquele momento.

“Continuas igual”, disse-me. “Pois continuo. E ainda bem”, pensei.

Conseguimos tomar o nosso café, não tive que usar nenhuma desculpa para fugir e acabei por lhe dizer que durante o tempo de amantes me deixara louca, tendo ponderado a hipótese de deixar o meu então (e agora) namorado, mas que essas circunstâncias tinham ficado no passado, e no presente nenhum de nós fazia sentido na vida do outro.

Ainda assim foi um bom momento, este o do reencontro. O meu vestido passou a ser apenas mais um vestido azul-petróleo com um óptimo corte.

Quando nos despedimos – naquele abraço demorado – deixámos no outro um “até sempre” que foi, na verdade (e conscientemente) um “até nunca”.

18 de outubro de 2008

hoje é o dia

De luzes apagadas, fico a ressacar. Noutro dia qualquer estaria a preparar-me para sair, para ir jantar fora.

Não hoje.

Hoje estou a fingir-me acompanhada. O rádio e a tv trazem-me ruído. O telemóvel e o computador ligam-me a toda a gente menos a ti. Estou habituada ao teu som, mas é este que tenho agora. (Chama-se silêncio, apesar de tudo).

Não consegui chorar senão hoje. De tristeza ou alívio ou felicidade ou sei lá. Nada o faria prever e eu estava desarmada – amorfa e desprovida de defesas. Na cama, sem que desse conta, duas lágrimas quentes e doridas caíram. Trouxeram com elas o choro convulsivo, as muitas inspirações curtas e as expirações largas e vocalizadas. Eram só sentidas, não magoadas.

Não consigo homenagear-te de modo justo. Não há palavras para te definir, para te mostrar quão melhor sou por tua causa.

Agora vou fingir pesar quando sinto felicidade e gratidão?


O que para ti foi um fim, para mim foi um suspiro. O que para ti foi um acumular, para mim foi um libertar. (Não de ti, não sejas palerma. Tens a mania de te vitimizares. Não o faças. Pelo menos não hoje, que te ouço na cabeça).

Estou feliz e serena e triste e irritada. Estou cheia de certezas quanto aos devaneios, mas continuo sem projectar e sem vontade de o fazer. Estou calma e sorridente porque ignoro o que me espera nas noites e dias e noites e dias de inquietação, de estranheza, de solidão.

E, no entanto, não consigo ficar triste. Sei que é o esperado, o “normal”…

Só consigo sentir irritabilidade, algum descontrolo, impulsividade... que são sentimentos carregados de energia, por definição! E a minha energia uso-a como bem me aprouver!

Agora vou viver o meu luto. À minha maneira homenagear-te-ei. Sempre. Porque sou melhor agora. Conheço-me melhor agora.

Sou mais eu assim, sem ti.

30 de agosto de 2008

Os meus amigos (alguns...)

  • Tenho um amigo cientista. Um intelectual que franze o sobrolho quando fala. É o private joker. Diz coisas inacessíveis à maior parte dos mortais e vejo-me, não poucas vezes, obrigada a pedir-lhe que traduza para linguagem leiga a ideia que está a tentar transmitir-me. É lindo.
  • Tenho um amigo que é amigo de toda a gente. Faz partidas e é gozão, tem sempre opiniões sérias e tolas sobre tudo e todos. É genial. Inacessível, mas genial. É lindo.
  • Tenho um amigo palhaço. Adoro aquele palhaço. Quando o clima ainda está frio é ele que, bem ou mal, quebra o gelo. Ele sabe dizer as maiores ordinarices e fazê-las soar banais. É lindo.
  • Tenho um amigo-amigo. Daqueles a quem se pode ligar às 4 da manhã, quando nos metemos numa alhada. Ele acolhe-me nos braços, dá-me um beijo na testa e acaricia-me o cabelo até eu adormecer. É lindo.
  • Tenho um amigo que é o das saídas. É o amigo low cost. Sempre que estou com ele fazemos as melhores saídas, as melhores noites. E podemos passar muitas semanas sem nos encontrarmos. Quando nos vemos a festa continua. É lindo.
  • Tenho um amigo esperto. Inteligente. Sábio e vaidoso da sua sapiência. É culto, um pouco apanhado do clima, e fofo. Exibicionista. Isso torna-o lindo. É lindo.
  • Tenho um amigo religioso. Admiro a fé dele e a capacidade que tem de se sentir bem, mesmo sendo ostracizado. O meu amigo é reprimido (segundo os meus parâmetros), mas revela-se extraordinariamente feliz, sorridente e completo. É lindo.
  • Tenho um amigo que é um coração. Ele abre os braços e está a abrir o coração. No abraço dele durmo descansada, fico descansada, sorrio durante o sono. É o amigo pacifier. É lindo.