26 de fevereiro de 2009

eu mascarada de gente normal, ele mascarado de GNR...

- Boa noite, senhora condutora – diz, batendo continência

- Boa noite, Senhor Guarda. (ao que parece, se os tratarmos por “senhor guardas” é meio caminho andado para se sair ileso… Ah, e ser gaja também ajuda.)

- (grande sorriso nacional republicano) Pode mostrar-me os seus documentos de identificação?

- Concerteza, estão na minha mala... Que está na mala do carro. (riso nervoso)

- Imobilize o veículo, desligue o motor e queira sair, por favor.

Puxa, só faltava dizer para sair de mãos no ar!! Assim fiz. Saí, fui até à mala do carro, tirei a documentação e entreguei-lha. Até agora o raio do polícia estava convencido que eu estava alegremente etilizada. E, agora que penso, eu dei-lhe motivos:

- Então, menina “de Marte”, vem da festa de Carnaval? - diz ele, dizendo o meu nome completo, ao olhar para o BI.

- Sim, venho. (Grande sorriso nesta cara marciana – e eu nem tenho culpa! Tenho mesmo este ar feliz, bolas!)

- E ingeriu alguma bebida?

- (estavas a ir tão bem… é claro que bebi, dumb ass!!) Sim, bebi água. (mais risinho nervoso…) Mas podemos fazer o teste à mesma? É que nunca fiz, e…

- Bebeu água? Mas está muito feliz para quem bebeu água, menina “de Marte”. Então acompanhe-me àquele veículo para procedermos ao teste de alcoolemia, para verificarmos se está capacitada para conduzir.

- Boa! Mas vai ver que vai dar 0.0!!!! – Estive quase a desafiá-lo para uma aposta. A dinheiro!!! Mas reconsiderei. É provável que não fosse a melhor pessoa para eu desafiar... E entretanto fui invadida pelo mentol na minha boca. Começo a mascar a pastilha ruidosamente. Se fosse um filme porno, puxaria a pastilha para fazer um fio e começaria a enrolar no indicador, à medida que olhava para o agente chico-esperto. E mais, se fosse um filme porno, aquele bocal de plástico iria sofrer todo o tipo de lambidelas, sugadelas e mordidelas possíveis. Mas, de volta à realidade… – E onde é que posso deitar a minha pastilha, para poder soprar?

- Ponha aqui – e aponta para o tapete dos bancos traseiros da carrinha da GNR, onde jaziam os tubinhos de sopro e os respectivos invólucros de plástico.

Fiz uma bolinha com a chicla verde, com a língua empurrei-a para a pontinha dos lábios e com os dedos fui buscá-la e enrolá-la num dos plásticos (se bem que podia ter tentado, simplesmente, cuspir a chicla e tentar acertar num dos muitos plásticos do chão. Tinha sido mais “pretty woman” e marcaria a minha primeira vez a soprar o baloon, numa quase década de encartamento).

- Então – diz-me ele – o procedimento é o seguinte: vai iniciar um sopro contínuo até eu mandar parar e depois vemos o resultado.

- Ok.

- Aaaaaaagora.

- Fuuuuuuuuu… (pah, desculpem lá, mas não sei escrever o som do sopro, tá?!?)

- Já está. Agora é só esperar um bocad… – entretanto apareceu o resultado – cá está. 0.0, tal como a menina "de Marte" tinha dito.

- Aha!, está a ver? Já acredita em mim, já? (se calhar não devia ter dito “Aha!” ao GNR. [Fazer apontamento mental para memória futura!! ])

E, neste momento, o arqui-inimigo que me poderia mandar prender por desacatos vários que nunca passaram do campo da minha imaginação, transformou-se no meu arqui-amigo-do-peito, e encetou uma acalorada conversa. Coisa para durar os seus seis minutos!!

O que, como seria de esperar, preocupou a minha amiga que estava dentro do carro, descalça, a massajar os pés cansados de dançar horas a fio com o índio mais sexy da party, após beber uns dois litros de cerveja. Preocupou, mas não o suficiente para se descolar do assento. Nem baixar o vidro e mandar um berro para me socorrer. Enfim…

- Então, diga-me, menina “de Marte” – agora dito com tom meloso – é de cá? (e “de Marte” é o guarda a chamar-me pelos primeiro e último nomes. Usou sempre o meu primeiro e último nomes até ao fim da conversa…)

- Não, sou dum planeta vizinho. (disse o nome da minha “terra”)

- Sabe, eu tenho péssima ideia das pessoas da sua terra. São pilhos.

- Desculpe?

- Pilhos. São mitras.

- (olha-me este gajo…) É capaz de ter razão. Afinal só um de nós dois é GNR. Pois, mas não sei dizer, já não conheço muita gente lá.

- Ah, então não está lá a viver. Está a estudar fora, é?

- A… estudar?? Já deixei de estudar há uns anos.

- Hein? Data de nascimento… Ah, pois, mas não parece nada.

- (ouve lá, oh palhaço! Não tarda nada sou trintona… Estou maquilhada e tudo. Ou pensavas que isto era o meu outfit de carnaval? Mascarada de adulta, a gaiata…!) - Ah, obrigada. Sim, mas estive a estudar em Lisboa e continuo por lá.

- Ah, Lisboa, bem me parecia!

- (Epah, és um bocado camelo! Como é que te poderia parecer?) Pois… Acho que percebo o que quer dizer.

- Então e o que estudou, qual é a sua formação?

- É “marcianite”. (disse o nome do meu curso)

- Ah, bom. E teve Direito? Eu também estudei muito Direito, sabe?

- Hummm… (olha, e se te calasses? Devia era ter-lhe dado o número do telemóvel da minha amiga-com-dores-nos-pés-que-não-me-veio-salvar. E ao entregar-lhe o número dizia-lhe “Liga-me, ‘tá?” e lambia o lábio superior… Eheheh.) - Sabe, eu tenho de ir andando, estou a sair agora da festa porque a irmã da minha amiga foi internada de urgência no Hospital. (O pior é que isto era mesmo verdade…)

- Olhe, menina “de Marte”, não se esqueça da sua carteira (que jazia esquecida na mala do carro da GNR).

- (bolas, pah! Que ar de totó tenho. Bem podia o gajo achar que eu estava bêbeda!) Ah, obrigada.

- Só mais uma coisa menina “de Marte”…

- (Porra, pára de me chamar menina e não me trates pelo meu primeiro e último nome, por favor!!!) Sim, senhor guarda?. Diga?

- O carro é seu?

- Não. É emprestado. (Ar espantadíssimo da jovem marciana: como é que ele adivinhou?!?!)

- E, diga-me, tem tudo em ordem? Inspecção, selo? Sabe onde está o livrete? Tem triângulo e colete?

- (Hesitação mental, resposta mentirosamente pronta:) Sim, claro que sim. O triângulo e o colete estão no fundo falso da mala, o registo de propriedade no porta-luvas, e o resto está no vidro e está tudo em ordem. (Resposta mental: foooooda-se, está tudo em casa, em Lisboa! Como é que me esqueci?! É bom que não me peças nada disso. Nada… Pleeeeease!!! Sim, o selo que está aí é o do ano passado, como viste quando apontaste para lá a lanterna… Mas não me peças nada!!!)

- Muito bem. Faça boa viagem e as melhoras para a sua amiga no hospital.

(A cara dele dizia: “deves pensar que me enganas. A irmã dessa está no Hospital e ela está descalça a esfregar os pés, só falta dar beijinhos nos dedinhos… E tu estás com 0.0 e com esse ar que quem acabou de chegar numa nave espacial, a dizer-me a mim que a documentação está toda em ordem… Deves estar é drunfada!”)

- Obrigada, senhor agente, e continuação de bom trabalho. (Estado de espírito hesitante entre o “Se fosses mazé chatear outra…!” e o “Obrigadinha, pah. Estava capaz de te beijar os pés por não me teres chateado por causa dos papelinhos coloridos expirados, no vidro do carro! Obrigada e que Deus te pague!)

Entro no carro e a minha amiga diz-me:

- Oh pah, porque é que demoraste tanto?

(silêncio meu e roncar furioso do motor)

18 comentários:

J. Maldonado disse...

Realmente esta história é hilariante, mas a tua ironia ainda é mais... tu não és deste mundo! :D
Estás a subir na minha consideração! ;)
Deves ter uma personalidade fascinante, pois consegues transformar uma banalidade num exercício de escrita intelectualmente estimulante... estou impressionado! :-O

Ana disse...

Não fui bem paga, mas já me parti a rir com este relato 5 estrelas ah ah ah! :DDDD

afectado disse...

Excelente relato hehehe

Mas olha, se ele te pedisse para mostrar as coisas que tu disseste teres no carro mas que afinal ficaram em Lisboa, aí sim, poderia ser uma boa altura para "puxaria a pastilha para fazer um fio e começaria a enrolar no indicador, à medida que olhava para o agente chico-esperto".

Até ver só bufei uma vez ao balão. Foi no escritório da minha antiga empresa. Não, não sou um bêbado! Simplesmente fizemos uma almoçarada no S.João e depois a nossa Técnica de Segurança e Higiene quis ver quais dos meninos acusava mais álcool naquela tarde solarenga de trabalho... :P

de Marte disse...

Ehehe,
Obrigada, Maldonado!

Sim, realmente sou fascinante, mas só tu e eu é que nos demos conta! Não sei o que se passa com o mundo... :)


Van,
5???
estrelas?? e quantas pontas tem uma estrela??? opah, estás a perseguir-me, é??

Beijos aos dois visitantes.
Muaaah
Mars

de Marte disse...

Afectado,
Sim, é um facto!!!
Nessa altura ía ter que puxar por bem mais que um fio de chiclete!!! Ia puxar pelo Mb que me lixava!!! :)
Ainda bem que ele foi com a minha cara, senão estava mesmo feita ao bife!


E quanto a ti? Afinal quem era o trabalhador mais alegre naquela tarde por alturas de S. João? O nosso ilustre Afectado? :)

Kisses
Mars

afectado disse...

Eu? Nah! Não gosto de abusar na bebida apesar de em almoçaradas ou jantaradas beber 1 ou 2 copitos. E chegamos à conclusão que o balão estava estragado... dos 6 meninos que ela veio testar, 5 acusaram 0 (eu estava nesse grupo) e 1 acusou qualquer coisa mas pouco.

Ora ninguém estava bêbado como é óbvio, mas 0 não podia ser mesmo! Ou então no S.João enganaram-nos bem com as garrafas que puseram na mesa :P

de Marte disse...

É bem, é bem!!
Soprar o baloon estragado!
Se calhar esse baloon é como os conta-quilómetros antigos, que chegavam aos 99.999km davam a volta e voltava aos 0. Se calhar a festa Sanjoanina fez com que dessem "a volta" ao contador, que foi parar ao 0.0!!! :)

(muahahah!)

Unknown disse...

A ironia e bom hmor estão cada vez melhores...
ah...e eu, apesar das dioptrias, também reparei ...fascinante...

Anónimo disse...

Que historia mais parva...

Anónimo disse...

Que historia mais parva...

de Marte disse...

Luís-Bento-vai-pra-dentro,
aqui a palermice salta à vista! Não há dioptrias que o salvem!!!

:P

Bj
M.

de Marte disse...

Anónimo,sim,defactoéumaparvoícepegada!!!

:)

de Marte disse...

Anónimo,sim,defactoéumaparvoícepegada!!!

:)

Mulheka disse...

Gostei especialmente da parte em que saiste da realidade e pensaste como seria se fosses uma estrela porno ahahahah

As aventuras automobilistas dão sempre bons posts, também tenho um com isso.

Mulheka disse...

Gostei especialmente da parte em que saiste da realidade e pensaste como seria se fosses uma estrela porno ahahahah

As aventuras automobilistas dão sempre bons posts, também tenho um com isso.

de Marte disse...

Mulheka,
isto acontece-me todos os dias. (não a parte da estrela porno...)
Mas há sempre momentos em que me passam coisas pela cabeça e que não posso, não devo ou não quero dizer. E é um bocadinho à ally mcbeal, em que estou na realidade, dou um pulinho à fantasia, fico por lá a fazer o q me apetece e regresso à realidade. Puff!, como num passe de mágica...

(vou dar um salto ao teu corner para procurar as aventuras automobilistas de q falas...)

Bjs
Marssssssssss

Ninja! disse...

Hehehehe! Estás como eu, quando sou mandado parar pela polícia, quero sempre dar uma de descontraído. De tal maneira que acham sempre que estou meio grogue. :P

de Marte disse...

Olha que, vendo bem, é capaz de ser mais complicado no teu caso que no meu!
Se me mandam parar só embirram com a nave espacial, por parecer estranha. Digo que é um protótipo de carro eléctrico e largam-me os calcanhares. :)
Já no teu caso, tens muitas explicações a dar, nomeadamente onde é que estão as licenças de uso e porte do ninja-to, das estrelas, do shoge, do sai!!! Ah pois é, meu menino, não penses que a polícia anda a dormir!

Bjs marcianos