6 de fevereiro de 2009

espreitei pela fechadura...

Saído do passado envolto em nevoeiro, chegou um amigo que a fez lembrar-se de si. Ele lembra-se de como ela era feliz. Ruiva e farta e sorridente. E do cheiro que tinham os seus cabelos ondulados, de fogo. Lembra-se, porque o guardou bem guardado, da sobrancelha que ainda hoje se atira ao ar quando se chateia.


Lembra-se da voz dela e de como cantava bem. Das saias que usava, das botas de que mais gostava.


No liceu eram amigos. Agora ele é um pedaço daquele passado que ela já tinha esquecido.


A ela sabe-lhe bem viver aqueles momentos de partilha, de recordação, de glamour e de prazer que ele lhe proporciona. Ela fica três décadas mais jovem quando fala dele. Ela ri-se como há muito não ria.

Quando a chuva a deprime, é nas palavras dele que procura alento e conforto e mais um sorriso. São amigos, eu sei. Mas são mais que isso…


O romance deles ainda é adolescente; trocam telefonemas e mensagens que cruzam, com pressa, o Atlântico.


Compreendem-se como ninguém e estão a viver uma paixão secreta. São ambos casados e ela é mãe. A minha.

3 comentários:

afectado disse...

há histórias assim... mais fortes que tudo!

J. Maldonado disse...

Eh pá isso é complicado! :D
Francamente não sei o que dizer neste caso, se for verídico e pessoal (teu)... Terás que ser tu a ver o que é melhor para ti... :/

de Marte disse...

As "histórias assim", em que as pessoas desenterram ou reencontram uma velha paixão só são bonitas se forem connosco. Com alguém próximo deixamos de ser tão compreensivos. E se for com algum daqueles seres que julgamos eternamente assexuados e ingénuos (also known as progenitores) pior ainda.
O pior disto tudo é que ela não sabe que eu sei.

So uma coisa me descansa: sacudo a água do capote e posso sempre tentar acreditar que afinal a bigamia é herança de código genético. Nada a fazer, então!...