9 de janeiro de 2009

Antoine de Saint-Exupery


"-Não - disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?



-É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. Significa "criar laços...".



-Criar laços?



-Exactamente - disse a raposa. Tu ainda não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo, aos teus olhos, de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...





(…)





Mas a raposa voltou à sua ideia.



- A minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu aborreço-me um pouco. Mas se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. O teu chamar-me-á para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa nenhuma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, far-me-á lembrar de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...



A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:



-Por favor...cativa-me! - disse ela.



-Bem quisera - disse o principezinho - mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.



-A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. Os homens já não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens já não têm amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!



-Que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.



-É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu sentar-te-ás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu olhar-te-ei pelo o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, sentar-te-ás mais perto...



No dia seguinte o principezinho voltou.



-Teria sido melhor voltares à mesma hora - disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais me sentirei feliz. Às quatro horas então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!


(...)


Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:



- Ah! Eu vou chorar.



- A culpa é tua - disse o principezinho - eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...



- Quis - disse a raposa.



- Mas tu vais chorar! - disse o principezinho.



- Vou - disse a raposa.



- Então, não lucras nada.



- Eu lucro - disse a raposa - por causa da cor do trigo.”



3 comentários:

Moni disse...

Oi tenho um selo pra seu blog.
Eu o ganhei hoje e tenho q passa-lo para mais 15 pessoas. e vc deve fazer o mesmo.

bjos
=*

J. Maldonado disse...

É um excelente diálogo dessa magistral obra de Saint Exupery que nos dá uma interessante perspectiva sobre o funcionamento das relações humanas, nomeadamente no que toca à reciprocidade. :)
Gostei dos "sublinhados". Tu cativas-me cada vez mais com a tua paradoxal personalidade... ;)

de Marte disse...

Obrigada, Moni, pelo selo. Vou estampá-lo aqui no blog não tarda! :)


Xôr Maldonado,
O principezinho é um mega-clássico. O que te cativa é o livro, é o pensamento de quem o escreveu. Eu apenas seleccionei e pus a relevo as partes que a mim me tocam. Mas é bom ver que também te tocam a ti.

Beijinhos aos dois