28 de setembro de 2008

pedaços de ti

Lembro-me daquele dia, em que ainda ninguém sabia que "namorávamos" – nem nós!

Fomos para tua casa; reconheço que estava cheia de vontade de te ter, de te conhecer. Nem acredito que já passaram anos...

Gostei do modo como me puseste à-vontade; como te puseste à-vontade. Adorei ver-te de jeans com umas pequenas dobras no fundo, em tronco nu, de pés descalços. O teu peito esguio e aveludado estava a deixar-me excitada. Nunca tínhamos estado assim, à beira de nos amarmos. Lembro-me desse sentimento, da inquietude, das borboletas na barriga.

Creio que para criar ambiente, ou simplesmente por estares nervoso, fomos ver os teus álbuns de fotos. Dos clássicos nus, às divertidas festas de aniversário ou férias em família, era o teu sorriso, a tua felicidade que sobressaía.

Sentada ao teu lado, via como recordavas os momentos em que tinhas os teus pais juntos e venturosos. Sorrias com as memórias, e eu sorria contigo. Encostada ao teu peito cheirava-to e beijava-to de vez em quando. Enrolava os dedos nos teus cabelos grossos e encaracolados, sempre despenteados, e respeitando o teu momento de partilha anímica, reprimi o desejo que me arremetia para cima de ti, querendo arrancar-te as calças.

Senti-me embrenhada na tua vida e na tua família e soube, num vislumbre, que nunca mais te deixaria ir de dentro de mim. Guardei o teu cheiro para sempre, guardei a tua saliva, guardei as tuas mãos, guardei a pele das nossas barrigas a colar, guardei os teus gestos, a maneira de ajeitares os óculos quando estavas nervoso.

Da massagem, do banho e da madrugada seguintes armazeno as melhores memórias. Ficaste a ver-me da janela da sala enquanto eu partia e soubemos os dois que tinha sido a primeira e a última vez.

Não estava planeado apaixonar-me por um amante.

2 comentários:

J. Maldonado disse...

Ás vezes os amantes são a tábua de salvação dos afectos insatisfeitos...

de Marte disse...

Os "amantes" têm uma função! Não exigem nem dão mais do que lhes compete. E pronto. E falo disto como amante! Os amantes devem ser pessoas com pontos em comum, objectivos comuns, respeito mútuo. Apenas.
Sem exigências, sem compromissos.

Por isso perdi o controlo quando percebi que me tinha deixado apaixonar...

Mas já foi há tanto tempo que parece que foi noutra vida.

:D

Saudações marcianas