20 de junho de 2009

point of no return

O que eu gostava das lições 100! Lembro-me de fazermos a algazarra total nestes dias. Era comer tortas DanCake, beber Coca-Cola, muitos Cheetos, Fritos e outras coisas que fazem mal. Devia haver mais variedade, eu é que recordo principalmente estas gulodices por serem proibidas lá em casa. Proibidos eram também os namoricos. O bom é que os meus pais não precisaram de se preocupar comigo neste ponto: eu estava mais interessada em jogar às damas, ao berlinde (sempre fui craque!), em saltar ao elástico, jogar ao Sabichão (sim, também lhe torci a varinha para me rir com a sua ignorância!!), ao “peixinho”, ao mata, em tocar piano e vestir as imitações de Barbies.



Mas as lições 100 do 5º ano foram especiais. Alguém levou um rádio com leitor de k7, outros levaram as k7 com o melhor som do momento. O SUPERMIX 7 foi rei no meu ano áureo.



Os namoricos floresciam por esta altura. Ainda não tinha dado o meu primeiro beijo a sério. (Ok, e não cheguei a dá-lo. Eu ligava muito mais à sedução, mesmo sem me aperceber disso. Porque tinha um brilho natural, creio! [xi, que modesta!] No meu bairro faziam-se apostas para ver quem conseguia um beijo meu. Escusado será dizer que ganhavam os que apostavam na minha “frigidez”…).



Mas voltemos ao Ciclo.



Eu gostava dum rapaz que gostava de mim… e de mais umas 30 miúdas, para dar um número redondo. Ora, como não estava disposta a dar o meu primeiro beijo a alguém que depois o fosse dividir (nas trocas de saliva) com sirigaitas, remeti-me à abstinência oscular.



E fiz bem.



Ainda chegámos a marcar um date num jardim mas houve fuga de informação e uma horda de incrédulos estava no spot muito antes de mim e muito (mal) escondidos!! Place your bets, só faltava ouvir!!!



Aquilo foi um evento que se situa entre o Bwin numa versão home made infanto-juvenil, e a espera que os crentes fizeram em Fátima, nos dias 13 dos meses seguintes aos pastorinhos terem comido aqueles cogumelos fixes.



Enfim… O tal jardim estava cheio de infantes atrás de arbustos hormonalmente aos pulos com a ideia de ver a boca da marciana quebrar a castidade a que estava votada. Esse momento não chegou naquele dia, exactamente por ele ter ido contar a toda a gente que me ia beijar. E os descrentes ganharam... mais uma vez! J



Mas as lições 100 marcar-me-iam para sempre. E porquê? Porque numa dessas lições este rapaz do quase-beijo recusou uma dança com a minha arqui-inimiga-loura e veio convidar-me a mim para dançar. E eu não dancei… eu flutuei! Estive no céu. Dançámos um slow que alguém (bendito seja!) trouxe numa atitude lamechas e cujo alcance essa criança desconhece.



Foi neste ano que saiu em grande força o hit (Everything I Do) I Do It For You, do Bryan Adams. E mudou a minha vida.



Vá, mudou a minha infância.



Bem, talvez o 5º ano.



Mudou o Verão.



Pronto, talvez nem o Verão! Mudou uma tarde. E tornou-a memorável.



(Sim, é isto.)



Aqueles minutos em que estive agarrada ao objecto do meu desejo foram mágicos. Mais de 4 minutos de êxtase. Aproveitei para me aproveitar dele, claro. Já que não ia beijá-lo ao menos ia mostrar-lhe o que é que ele (por ter andado a gabar-se que me ia beijar) estava a perder. (Isto são mesmo vingançazinhas à gaja, ya!). O engraçado é que eu queria que ele aprendesse uma lição, mas quem aprendeu fui eu.



Durante a dança fomos aproximando os corpos e comecei a sentir o ritmo cardíaco dele, completamente desfasado do slow que dançávamos. Os seus olhos fecharam-se; enrolou mais os braços à volta da minha cinturinha de impúbere e eu, de braços enlaçados à volta do pescoço dele e cabeça apoiada no seu ombro, pensei: “ah, então é disto que toda a gente fala…” e deixei-me ficar, guiada por um sentimento que acabara de descobrir, e por umas borboletas (que não me lembro de ter engolido) dançando no estômago.



Foi a melhor dança de sempre. De todo o sempre. Senti-me com metade da idade, envergonhada por ainda não ter querido ou deixado aquele sentimento nascer em mim.



Volvidos 17 anos a recordação ainda faz soltar um suspiro, talvez por nunca nos termos beijado. (Será que eu estou aqui a ver um “padrãozinho de não-beijar” que ainda hoje se mantém?!).



Whatever.



…Foi somewhere nesses 4 minutos que começou um rol de lamechice interior que não mais veria fim. Não tenho culpa. Uma vez aberto o portão da pieguice, encontrei-me num ponto de não-retorno. J E gosto tanto de viver assim!

7 comentários:

Spica disse...

As lições 100 perderam toda a magia... :(
Mas lembro-me quando eram uma festa. Um pretexto para uma diversãozinha extra!

Beijinho

de Marte disse...

Spica,
Era tãaaaaaao bom!!!

:)

bons velhos tempos!

afectado disse...

Bonito sim senhora!

E também me parece haver aí um padrão. Talvez optes por não beijar aqueles que preferes que não te desiludam, não lhes dando sequer hipóteses para isso.


http://www.youtube.com/watch?v=vFD2gu007dc

hehe :P

Ninja! disse...

Eu também gostava... Até começar a dar aulas... A algazarra é tanta que temos colegas a perguntar que se passava na sala.

de Marte disse...

Afectado, és capaz de ter razão.
Isto de estabelecer zonas de conforto tem o reverso...

de Marte disse...

Ninja,
mas isso é quando te pões nos pés do professor. Aí sim, tu vês a cowboyada frenética que eram as lições 100 ou outras festas do género!!
Mas quando eras (mais) puto sabia mesmo bem aquela horazeca de descompressão!

Ana disse...

Lições 100?...kéra isso???

Deixa lá, a mim chamavam-me super virgem... :-p