1 de outubro de 2009

Com fra[n]queza

Gosto das palavras escritas.
Gosto do que fica, inexoravelmente, provado por cada linha e traço de tinta que alijo no papel. Gosto de escrever e riscar e corrigir e rasurar. Reler e ver que o que escrevi da 1ª vez não reproduziu com exactidão a ideia que fervilhava.
Bebo um chá.
Pela janela entra um sol raiado que bate na chávena, fazendo-me ver o vapor da infusão quente, as partículas mínimas de humidade esvoaçando em cornucópias.
Leio Henry & June.
Também eu viajo a meio das linhas, das letras. Tenho dificuldade em concentrar-me. Olho repetidamente para as unhas, para as mãos enquanto penso em mim e nos Henrys e Hugos e Junes e Jeans que orbitam na minha vida (ou eu na deles).
A espera mata-me. O café onde estou fica cada vez mais silencioso e dou graças por isso. Sem colheres a tinir, sem chávenas a bater, sem conversas ruidosas. Não ouço o que dizem as pessoas, apenas vejo as palavras articuladas a serem disparadas pela boca.
Sinto-me nauseada.
Estou aqui sem propósito. Alimento uma causa perdida. O costume.
Vejo gente doente. Que choraria, caso lágrimas lhes restassem. Vejo gente que desistiu. De bruços em cima da mesa procuram o auxílio que a mente já não sabe prestar.
Não me dói ver. Só me aborrece nada fazer.

Varro-os a todos para fora da minha ciência e continuo a ler.

"Tenho pensado em sítios onde deviamos ir juntos - lugarzinhos obscuros aqui e ali, em Paris. Só para dizer «vim aqui com Anaïs - aqui comemos ou dançámos ou ficámos bêbados juntos». Ah, ver-te mesmo bêbada algum dia seria um regalo. Tenho quase medo de sugerir isto - mas Anaïs, quando penso no modo como te apertas contra mim, com que vontade abres as tuas pernas e como és húmida, meu Deus, fico louco (...)"

2 comentários:

J. Maldonado disse...

A tua brilhante versatilidade literária deixa-me sempre boquiaberto. Tu és um génio alienígena! :D
De facto a citação era mesmo apropriada para a ocasião... ;)

de Marte disse...

Vá, n sou nada disso. O livro estava em saldo!! :) E n tenho culpa de estar a ler aquela página lá no cafezinho.

foi a minha maneira de "fugir" daquele sítio sem usar muitas energias.

(e tu, q conheces bem Anaïs, sabes q é de leitura fácil... em qualquer lado!)