Todos os sábados à noite (já domingos
de madrugada, algures entre as 2am e as 7am) recebo a mesma mensagem: “queres
companhia?”.
Das primeiras vezes achei
excitante o tipo quase desconhecido e sobejamente viril abordar-me desta
maneira. Em cinco segundos respondi enviando-lhe a morada. Nas vezes seguintes
apenas lhe respondia “Despacha-te”. E ele, bem-mandado, despachava-se. Vinha e
despachava-me e vínhamo-nos. Só já deitados eu tinha tempo para tomar ciência do cheiro a fumo
trazido das noites badaladas de onde este tipo aparecia, invariavelmente alcoolizado
e feliz. Falávamos muito durante os cigarros que ele fumava, nu, à janela do
meu quarto. Quando não estávamos, (eu) a falar e (ele) a fumar, fodia-me sem
misericórdia, como se me punisse. Nunca fez amor comigo, era sempre um saciar
de apetite como se da última vez se tratasse.
A última vez, de facto, não
tardou.
A minha resposta habitual – o “despacha-te” – deu lugar a um “não posso porque…”, bastante mal cozinhado. Entretanto aumentei
o rol de desculpas e o “estou muito cansada” serviu pretty well. Escudava-me e
escusava-me com o trabalho, com outros programas,… cheguei ao burlesco e
risível cúmulo das indisposições várias como a célebre dor – a de cabeça e outras.
E estas foram as únicas mensagens
que trocámos desde então: todos os sábados, devotamente, a mesma pergunta e uma
resposta diferente na forma, mas não no conteúdo.
Há uns meses deixei de responder,
mas continuo a receber o “Queres companhia?” como se de uma religião me
tratasse.