26 de agosto de 2009

a garagem da vizinha




















Uma amiga minha diz-me que sou uma oficina.






Que os meninos chegam estragados à minha mão porque só gosto dos que se revelam desafios. Porque quero os rufias, os desarranjados. Os que sofreram, os que se sentem marginalizados, os mal-amados, os que têm tristeza. No cômputo geral, os que precisam de conserto. Eles vêm, eu analiso, conserto e devolvo à natureza. Eles é que não sabem.






Veja-se o Sr. Lei. O Sr. Lei veio parar-me às mãos num caco. Sintomatologia: Vida amorosa de pernas para o ar. Conflitos entre a sua mais-que-tudo e a família. Uma mais-que-tudo que se revelou ser uma pessoa má, sem escrúpulos, sem amor por ele. Diagnóstico: Intoxicação amorosa. Prescrição médica: Uma vez que ela o deixou após ter delapidado fisicamente e figuradamente a instituição familiar, manter este afastamento. Perceber que é ela que não o merece. Ele é um tipo certinho, cheio de sentimentos puros. Procurar uma menina que o trate bem e que queira ser a esposa e mãe que ele precisa de ter ao lado. Duração do tratamento: Até dois anos. O homem quer ser pai a curto prazo.






Bob, O Construtor. Sintomatologia: Vê o relógio a tictacar, o calendário a avançar no tempo, os cabelos brancos a surgir e a mulher da vida como uma miragem. É muito bem sucedido, tem berço e carreira. Diagnóstico: Pressa aguda. Prescrição médica: Levar as coisas com calma. A mulher certa há-de surgir. Enquanto não aparece, divertir-se com as erradas. Duração do tratamento: pode ir de semanas a vários meses ou anos. O que interessa é curar-se sem pressas.






Michel Vaillant: Sintomatologia: apego desmesurado a uma mulher, a uma imagem. Pequenas obsessões com coisas quotidianas, com ícones marcantes. Diagnóstico: Mais um Édipo que procura na mulher um decalque da mãe. Prescrição médica: Acabar com a ilusão de que existe uma e apenas uma mulher – eu – para fazer dele um homem preenchido e feliz. Duração do tratamento: Com o feitio determinado e a ausência de contacto com a sujeita em questão quaisquer seis meses, no máximo, cumprem o objectivo.






O Johnny Bravo. Sintomatologia: Vivência em terreno desconhecido, por nunca ter amado em adulto. Diagnóstico: Desnorte emocional / vertigem amorosa. Prescrição médica: Agora que sabe o que é o amor, o que é amar, o bom que é e o bem que faz, dar asas aos sentimentos e permitir-se a amar e ser amado. Agora está pronto para viver um relacionamento sério, onde pode dizer “amor” sem sentir que lhe estão a roubar parte da masculinidade. Porque um homem também chora. (Não é preciso confessar. Basta pôr em prática os sentimentos bons que foi cultivando). Duração do tratamento: Curtíssima duração. O sujeito tem, no momento, plena capacidade física e anímica para prosseguir sem muleta.

4 comentários:

Ana disse...

aiiiiiiiii gostava de te ver a fazer isso com outros mais...asterix, obelix, frodo e sam, tintin, arsene lupin, calvin e hobbes...as hipóteses são tantas!?

de Marte disse...

asterix é um keeper. ficava logo com ele. o obelix tem um problemazinho de gestão de apetite e eu não nasci pra cozinhar pros outros. O frodo e o sam estão bem... um pro outro. o tintin tem a mania que é erudito e fala francês, está fora da jogada. O arsene é muito charmoso, sim senhor, mas é cleptomaníaco!! E eu tenho amor às minhas coisas. O Calvin ainda é criança, ai ai ai... Claro que o calvin nem entra nos parâmetros de macho. O Hobbes é um gato. (Se dito com sotaque brasileiro muda logo de figura...)

J. Maldonado disse...

Nunca tinha pensado nesta nomenclatura, pois, com as devidas adaptações, também se aplica às mulheres.

de Marte disse...

:) maldonado, estas sao as alcunhas que lhes dei e não têm propriamente as características dos cartoons. Mas que me farto de rir à conta dos bonecos, farto... :)

É claro que também se aplica às muchachas. Há aí com cada uma... :P