22 de agosto de 2011

Estás no magote

É inacreditável com há tanto te deixei ir – ou te foste pelo próprio pé – e como nunca chegaste mesmo a partir. Nunca te foste, nem nunca quiseste sair de cena. Habitas em mim, partilhas casa com o meu novo amor. Partilhas casa com quem me faz feliz, com quem me surpreendeu quando achei que nem por sombras iria precisar de ninguém. Ficaste a morar, escondido, num qualquer alçapão da casa. E eu, tonta, ia deixando alimento, sabendo que ainda por lá andavas e que estava a prolongar a tua estadia em mim. Deliberadamente ficavas, deliberadamente te mantinha. Te mantenho.
Enraivece-me que não sejas para mim, que eu não seja para ti. Queria-te. E tanto, tanto. Não consigo esconder, negar nem apagar que te gosto. Não percebo sequer porquê. Sei apenas que me habitas e amiúde me arrepias. Que sorrio ao ler o teu nome no telemóvel quando o toque do código morse me dá o “s”, o “m” e o “s”:
… - - … / … - - …
Que às vezes te sonho e que quase todas as noites te incluo naquilo que não é reza, mas que é o desejo de que se encontre bem o magote de pessoas de quem gosto. Estás no magote.

15 de abril de 2011

é o fungagá

[Há coisas que me irritam e há coisas que só me fazem confusão.
Esta não é nem duma nem doutra estirpe.
Isto entra no reino da estupidez].

Há coisas que me estupidificam!! Uma delas é aquele tipo de gente que se preocupa muito com os animaizinhos [coitadinhos e cenas], que nem comem carne nem peixe para não os fazer sofrer. [E os legumes/frutos, Hein(z)? Ninguém pensa nos legumes-barra-frutos? Que, pois, também sofrem os nabos1 quando são trincados. Que também agonizam as couves2 quando vão para a panela, tal qual uma lagosta sibilante. Mas okay, não é este o meu ponto e já me desviei do rumo].
A preocupação destas pessoas é tão grande que se fartam de criticar as gentes que maltratam os animais. E «maltratar» pode ser tudo, desde abandonar, não dar beijinhos na boca, não gostar de lambidelas. Ou, como eu, não gostar de ir jantar a casa destes amigos e verificar que existe uma cadeira específica à mesa para esse ser feio, pelado, malcheiroso, encontrado não-se-sabe-onde, abandonado por uma senhora má… e que a minha amiga fez o favor de levar para casa, dar banho, amar e respeitar até que a sarna os separasse. [Ah, e aqui ainda estou a falar do namorado dela.]
Este namorado dela – porque um mal nunca vem só – trouxe acoplado a si um cão daqueles pequenos e de ar esperto – o único com este ar lá em casa, portanto – trazido de um canil porque ia ser abatido e essas mariquices. Um acto bastante digno, digo eu, o de levar um animal para casa, libertando-o da morte próxima.
Agora andam os dois na senda dos “coitados dos animais” e “vil o Homem que não contribui” com o dízimo para as causas dos de quatro patas.
Estamos nós então a comer vegetais – what else? – estufados, guisados, entalados, cozidos e assados e eu, para que a comida me soubesse a alguma coisa, fui ao frigorífico procurar maionese. “Não usamos!!”, dizem em uníssono. “E porquê?”, pergunto eu no mesmo tom… E a resposta foi “Porque leva ovos.”
Eu sei que a malta defende os animais porque eles não se podem defender e tal e tal, mas… os ovos não são animais! Isso não conta!
O problema é que da maionese passou-se ao tema das marcas [brands], que fazem testes em animais, que é uma crueldade, ai ‘nha mãe, pardais ao ninho. E então disseram-me que marcas como a Hellmann’s, Lipton, Oral B, o.b., Dove, Knorr, Pringles, Duracell, Olá, Pantene, Comfort faziam testes em animais. Fiquei estupefacta!
A questão knorr pareceu-me óbvia: tal como não se fazem omeletas sem ovos também não se fazem caldos de “_______” sem “__________”, sendo que “_______” será com certeza “carne”, “frango”, “peixe” ou “legumes”. [E sim, eu compadeço-me com a causa dos legumes].
Destas marcas atiradas para o ar há umas, realmente, que fazem confusão. Desde já, as Duracell. Não me lixem, não me lixem: os animais não levam pilhas [tirando um cão duns indianos que vi ao pé das docas, mas esse dava cambalhotas para trás, fruto da sua relação íntima com duas pilhas AA].
 O uso de o.b. também me faz espécie, nem sei por que raio precisam eles de tampões. Das duas uma: ou é para também poderem ir à praia, andar a cavalo e de bicicleta como nós (mulheres) ou é para apanhar grandes bubadeirões com os tampões enfiados no rabo previamente mergulhados em álcool – é a última moda dos catraios europeus!
Mas de resto, parece-me tudo tranquilo.
Que testes é que se fazem com Hellmann’s? Dá-se uma maionesezinha ao rato a ver se gosta?
Ou serve-se um chá Lipton de Marrocos aos cães, a ver se (a)provam? Escovam-lhes os dentes depois das refeições com Oral B?
Lavam as mãos e a cara às pombas com Dove? Servem-lhes Pringles como snack em vez de milho? Só acho mal se a Guaraná também não acompanhar os testes, porque vai muito bem – e leiam com olhos de ler o que vos escrevo – e repito, vão muito bem umas Pringlezinhas daquelas de sabor alhado com um Guaraná fresquinho.
E mais, e mais? Lavam-lhes o pêlo com amaciador Comfort ou com champô Pantene?, dependendo do fototipo do animal? Pah, cá por mim até acho bem…


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1 Repare-se na subtileza do exemplo, que não recorreu aos “tomates”, reviengando a piada fácil.
2 Outra vez, a esquiva à graçola gratuita, evitando o exemplo “grelos”. 

13 de abril de 2011

às quatro da madrugada

Já num estado avançado de flirt, em que o “fazia-te isto/aquilo/assado/cozido” eram rotinas diárias de atiçamento via sms:
- Achas que é seguro eu ir a essa festa?
- Se tiveres problemas cardíacos é melhor não apareceres porque não trago lingerie.

Tal como previsto, dado o teor da mensagem, ele apareceu. Apareceu para comprovar a inexistência de roupa interior. Apareceu para me levar para a cama. Apareceu porque eu já tinha marcado no meu calendário que aquele era o dia em que ele ia ser devorado.
No meio de muita gente conhecida fizemos o que nos competia e fingimos a mútua indiferença. Trocámos uns olhares, sussurrámos provocações dignas de filme de adultos e tocámo-nos desavergonhadamente em gestos disfarçados de atribulação ou simples falta de jeito.
Os Hendrick’s desapareceram a uma velocidade anormal, que associo a pura ansiedade. Pedi a um amigo que me levasse a casa e despedi-me de toda a gente, inclusive do homem por quem andara a suspirar nos últimos dias – e nesta noite em particular.
Saí e enviei um sms a dar-lhe as indicações para ir ter a minha casa. Presumo que tenha voado até mim porque demorou pouco mais que eu a chegar. Esperei por ele à porta do prédio, do lado de dentro. 
Abri-lhe a porta.
- Sempre deste com isto, hein? – disse, abrindo a porta e afastando-me o suficiente para que não tivéssemos de nos cumprimentar de maneira nenhuma.
- Sim, foi bastante fácil. Desculpa se demorei…


Dirigimo-nos para o elevador. Não tivemos de esperar, visto que ainda lá estava o mesmo em que eu descera. 
Corre a porta – abre-se. 
Entramos. 
Corre a porta – fecha-se. 

[Freeze. Este momento é crucial.
Eu sei porque é que ele está ali, ele sabe porque é que o recebo ali. Estamos ambos fartos de prometer e prever encontros sexuais, de descrevê-los com pormenores vistos, certamente, em filmes. Eu sei que, não tarda, estaremos engalfinhados em coreografias sensuais copiadas, outras só pensadas, outras muito desejadas ou trazidas de boas experiências anteriores. Sei que vou conhecer-lhe a boca, as mãos, a língua, o ventre, o peito, … e, conhecendo-me como conheço, sei que vou proporcionar-lhe um momento-cama digno duma experiência d’A Vida É Bela.]

Inspiro fundo e encosto-o ao espelho do elevador.

pet me

Hoje a minha cama está vazia.
Ontem, livre.
Anteontem, inabitada.

Hoje o meu telemóvel andou silencioso.
Ontem, mudo.
Anteontem, calado.
  
Estou desejosa do seu toque. Que regresse do paraíso e me preencha. Fisicamente. Que me preencha.
Me esgote.
Quero a ânsia do toque, a respiração contra a minha.
Falar com as bocas tangentes, adormecer em colher, acordar com o calor excessivo que os dois corpos produzem, incapazes de se largar.

[Acho que é mais ou menos por esta altura que as pessoas arranjam animais de estimação…] 

19 de fevereiro de 2011

kiss my ass


Depois de uma noite bruta[l] de sexo, estamos os dois na casa de banho a preparar para ir dormir. Ele acaba de lavar os dentes e sai. Eu procuro, na minha bolsa, a escova de dentes... e nada:
- Olha, posso usar a tua escova de dentes, porque hoje me esqueci de trazer?
- Isso não é um bocado nojento...?
- Grande lata! Nojento, achas? [Tico e Teco a funcionar: wooooow... tu, ainda há dez minutos me lambeste o ass e agora dizes que o eu lavar os dentes com a tua escova é que é nojento?]
Lavo os dentes. Entro no quarto...
- Então, sempre usaste a minha escova?
- Não, não. Lavei com o dedo e bochechei com Listerine. Tinhas razão, é um bocado nojento... [Eheheh. Blherk!]

31 de janeiro de 2011

V-I-A-G-R-A

E se, para além de ENLARGE YOUR PENIS, o Sildenafil também ENLARGEASSE YOUR BRAIN?!? 
Isso é que era jeitoso... 

23 de janeiro de 2011

Virgen del Rocío



Uma tipa santa com um nome destes capta-me logo a atenção.
É que uma pessoa, mesmo não querendo, cria empatia logo de chofre...










(Onde é que clico para "become a fan"?)


16 de janeiro de 2011

come /kʌm/


Pôr no play antes de começar a ler...


Ouvir esta música e violar-te.
Rasgar-te a roupa.
Romper-ta.
Ou só arrancar-ta.
Tirar-ta.
Gentilmente.
Passar-te a mão devagar.

Sentir-te a pele doce e dócil, sentir o meu tesouro, o cheiro guardado em ti, na tua roupa, junto ao teu pescoço.

Desapertar-te, um por um, os botões de camisa que te escondem. Manter-te deitado. Fechar os olhos – primeiro os teus, os meus logo depois. Tactear-te com todo o cuidado, como se quebrasses com inspirações fortes. Trazer à luz do escuro o teu tronco, o teu peito. Tocar-te com os dedos médios nos mamilos. São suaves e acastanhados. Sinto-lhes a pele fina, delicada como papel de arroz. Passar a língua por eles, acastanhados e suaves. Os teus mamilos que são meus. E de comer. Como tu, como a tua língua.
Como os beijos carnudos, de lábios cheios e inchados que me recheiam a boca e me trazem esgares violentos. Ou talvez não violentos, apenas instintivos, animalescos, selvagens. Ou dóceis, expressões de amor. De desejo e amor, de paixão. Foda-se, tanta paixão. E saliva.
A saliva. A tua saliva, doce e líquida, é a minha água, mata a minha sede – aumenta a minha fome.
É com o teu peito à mostra que por ti deslizo. Caminho por entre os pequenos sinais que te mapeiam a tela lívida, a minha almofada preferida - o teu peito. Estou perdida em ti, sinto-me perdida e divinamente insana por te consumir sem freios, e deixo a felicidade escorrer-me pela boca sob a forma de sorriso. Sou feliz, tão feliz em ti. Deixo os dedos entretidos nos alguns (poucos) pêlos que te descem pelo umbigo. Gosto-te e aproveito-te. Desejo-te cada pedaço, usufruo-te todo. Agarro-te a barriga, a tua-minha barriga, apanho-ta pelos flancos e aperto-ta sem magoar, apenas reconhecendo-ta. À tua-minha barriga. Maior que noutras alturas, a tua-minha barriga. Continuas delicioso como quando eras o apetitoso franzino que se deslizava para dentro dos meus lençóis, desavergonhadamente, para noites de aconchego, para serões de mimo, pra experimentar o amor de que virias a gostar.


As calças. As calças que te assentam. Que bem te ficam, sempre sempre. Desaperto-tas com calma, com o jeito que te aprendi. O decoro, talvez. A minha calma aumenta-te o desespero. Sei que te faço sofrer e engolir uma golfada de ar, que não é mais que desejo preso. Preso atrás dos botões, atrás da roupa interior sem costuras. E é atrás do fecho das calças que moras já tu, rijo e doce. Contrais-te e sinto-te crescer. Sinto o rush dentro de ti, a correria de efeitos biológicos que não conheço nem me interessam. Quero-te - tenho-te. Dou, por fora da roupa, uma dentada demorada ao longo de ti, preso. Aqui sim, enclausurado. Entre os meus dentes. Entre os meus dedos, preso. Preso e grosso e meu. Meu. Sinto no lábio o doce e húmido toque a ti, o doce doce que gosto de passar nos lábios, como gloss. E é glossy que me pões a boca, quando te tiro, te saco, te liberto. Continuas sem abrir os olhos, e nem deles precisas. Já conheces o caminho para a minha boca, já sabes que fico com os lábios entreabertos enquanto te deslizas ao longo deles, deixando-mos brilhantes e doces. Doces, sempre doces. Lambo-me com a ponta da língua. Saboreio-te e reconheço-te. Todo, todo. Reconheço-te. Desejo-te e lambo-me e lambo-te.
O teu doce abre-me a boca e o apetite. Rapidamente te afundo na boca, te toco e palpo com movimentos aleatórios em intensidade e pressão - como gostas. Alterno a minha mão com a tua, em ti.
Toca-te. 
Excita-me ver-te tocares-te. A mão que te é familiar, o meu corpo que em breve se encaixará, tudo faz sentido e faz parte. É o nós.

E a música, ainda a música...

[DILEMMA], escrito a 1 de Junho de 2010.

Há teorias que os estudiosos e investigadores desenvolvem, baseadas na realidade, que poderiam aplicar-se aos relacionamentos.
Essa é a especialidade desta casa. Em Marte vão buscar-se técnicas, teorias e correntes de pensamento com aplicação prática nas ciências exactas e aplicam-se ao mundo que conheço: o das relações.
Assim, e tendo em conta o funcionamento dos mercados, desde cedo aprendi que um monopólio é, pelas suas características, mau. Assim o será também a monogamia, presumo, pelo abuso de poder que lhe está inerente. As condições ideais, já dizia o Adam Smith, implicavam uma mão invisível que regulava o mercado criando oportunidades equitativas e satisfatórias para todas as partes. Esta é uma visão bastante comunista da economia e assim o é aplicada a uma relação.
Neste caso, a mão invisível seria não a capacidade auto-reguladora do mercado, mas uma mão que alguém nos dá, mesmo – ou especialmente – quando não a vemos. E não precisamos necessariamente de a ver: basta senti-la. É neste espírito que funciona a “mão” do Adam Smith, em que as tuas mãos incarnam nas minhas e estas, fazendo as vezes das tuas, me exploram equilibradamente, invisivelmente, nos momentos em que não estás mas o desejo de ti sim. É este o regulador do mercado. É a não-necessidade de ter comigo na cama outros consumidores a quem eu escoaria facilmente o excessive stock que tenho de tesão.
Chegamos então a um estado contraditório: esse regime não dá poder de actuação de um sobre o outro? É isto um monopólio – esse bicho-papão desvirtuador da economia – que manieta a actuação do outro?
A resposta é: depende.
Se olharmos para o célebre dilema do prisioneiro, uma teoria de jogo clássica, podemos compreender que o resultado, num jogo como num relacionamento, depende não só da minha actuação como da actuação do outro ou, aliás, da soma das duas, senão vejamos:
O “dilema do prisioneiro” é, basicamente, uma história de dois indivíduos que foram presos. Desconhece-se se um ou outro são culpados, ou se os dois, ou se nenhum – e realmente, não interessa. Dizem-lhes as autoridades – a cada um, independentemente – que (i) se ambos negarem a autoria do crime (e uma vez que não há mais provas), saem os dois ao fim de 6 meses de cadeia; (ii) se um confessar (e acusar o outro) ganha imunidade, sai em liberdade ficando o outro encarcerado por 10 anos; se (iii) cada um culpar o outro recebem ambos 5 anos de cadeia.
 A questão central aqui é que os dois prisioneiros não estão juntos nem poderão conversar entre si. Neste caso o resultado não depende só da acção de cada um, mas da soma com a decisão do outro.
A relação a dois funciona do mesmo modo: ou se confia que o outro não vai denunciar o contrato tácito ou mais vale acusá-lo logo e acabar com a cumplicidade, contando, à partida com a minimização do dano pessoal. Neste caso não se está a contar com parcerias futuras. Já no caso de haver “repetições” do jogo, como haverá seguramente no caso de uma “parceria amorosa”, o receio de punição ou castigo inviabiliza ou minimiza as hipóteses de um payoff desfavorável para uma ou outra parte, favorecendo a cooperação. Trocando por miúdos, as pessoas são mais amáveis e afáveis se condicionadas por um “medo” de repressão, ainda que meramente imaginativo.
A teoria dos jogos oscila entre uma interacção cooperativa e competitiva. E é assim nos mercados económicos como nos laços pessoais: mesmo tendo consciência que num cenário de cooperação os resultados seriam largamente melhores (em que os dois prisioneiros negavam a acusação e saiam os dois com 6 meses de pena), o player é impelido para o individualismo, procurando o próprio bem sem olhar ao bem do outro (sair em liberdade e o outro cumprir 10 anos de cadeia), por via das dúvidas e da falta de crença nas atitudes e na boa-fé do outro.
Se bem que nenhum prisioneiro tenha actividade focada no prejuízo do outro – note-se que até serem presos eram cúmplices – a incerteza da actuação do outro fá-lo-á proteger-se, pelo que os concorrerão CONSCIENTEMENTE entre si ao invés de cada um praticar o cenário que mais vantagens lhes traria: a cooperação.
Mas dizem os estudiosos das probabilidades nas teorias dos jogos que as melhores estratégias e, portanto, a aproximação à “decisão óptima” têm em comum uma série de acções, e que passam pela amabilidade, a retaliação, o perdão e a anti-inveja.
Se tivermos em atenção estes como estandartes da nossa actuação, a probabilidade de sermos bem-sucedidos em qualquer estratégia é maior, logo o payoff é o melhor para os dois. A amabilidade pressupõe que não se abandone o “campo de jogo” sem que o outro player o faça primeiro. Por uma questão de perseverança estratégica o player só desistirá se o outro (até então cooperante, a partir de então opositor) o fizer primeiro. Ou seja, se há dúvidas em que o relacionamento é ou não viável, é porque existe a hipótese de viabilidade e, logo, de sucesso – não está em causa a duração, apenas se é bom ou mau para ambos. Se existe a dúvida na viabilidade é porque há espaço para o sucesso, sendo que doutro modo não haveria hesitação, mas antes a certeza de que não funcionaria. E assim, faz sentido o investimento. Isto não implica uma confiança cega, pois terão de ser consideradas as estratégias de oportunismo vindas do outro lado. Se reiterado o oportunismo, a retaliação surge como uma estratégia clara e indiscutível. E do mesmo modo que se parte para a retaliação, o player saberá, por razões estratégicas de bem-estar, perdoar e voltar a cooperar assim que haja a mesma atitude por parte do outro player que, abandonando o papel de opositor, retoma o de cooperante. Por fim a anti-inveja é a qualidade do jogador que lhe permite jogar sem estar a comparar o seu jogo ou os seus proventos com o do outro player. Joga de acordo com a sua consciência e não com os movimentos de jogo do outro player. Não deverá procurar uma dominância, porquanto deixaria de ser um jogo cooperante.
The bottom line is: o jogador interesseiro começará a ver mais vantagem na cooperação e passará a praticar as quatro acções acima descritas como estratégia; o player naturalmente amável terá mais probabilidade de ser bem sucedido pois começa mais cedo com a decisão óptima e, dizem-no os estudiosos destas questões, são os que têm um payoff mais favorável, mais cedo, em todos os aspectos pois não apresentam “medo” de perder, nem revelam culpa nas actividades empreendidas; trabalham para o bem e, caso o mal venha, não é derivado das suas acções.
É uma merda ser dos bonzinhos, ser destes que dão a face (e mais bochechas, se as houvesse) para ser esbofeteadas. Diz-me a experiência que sou mais feliz assim sem medo da frustração e do fracasso, mais próxima da utopia. Até ver concordo com ela. E “dou-me-te” sem medo.

5 de janeiro de 2011

shortcut

- Queres sair?
- Sim, tudo bem mas são 23h. O que vamos fazer?
- Tomar o pequeno-almoço.