Às vezes choca-me o moralismo das pessoas.
Conheço uma gaja que é puta. Pronto, é puta. Não me perguntem o que consta na declaração de rendimentos de IRS dela, mas a actividade ocupacional (já que legalmente não pode apelidar-se “profissão”) é prostituir-se.
E pronto, basicamente encontramo-nos porque nos damos com um grupo comum de amigos. Ela não aparece muitas vezes porque tem sempre inúmeras “reuniões”. Não somos amigas, mas conhecemo-nos e até nos damos bem. No meio deste grupo (que não o é) há uma tipa que ficou toda chocada toda quando soube da profissão da outra. Porque «é um risco», porque «é moralmente reprovável / condenável», porque «destrói lares» … enfim… o típico discurso de uma Mãe de Bragança.
A mim, a profissão dela não me aquece nem arrefece.
A coisa mais próxima que consigo conceber para equiparar à foda é o consumo de álcool.
As pessoas normalmente fodem por prazer e bebem por prazer. Existe (dentro deste “grupo”) uma elite que fode (e bebe) como profissão: são as prostitutas e os enólogos, respectivamente. O primeiro ponto de contacto? Em nenhuma das profissões se engole.
Entre a espécie fodilhona e a espécie bebedora existe um híbrido, que são as miúdas das casas de alterne – mas isso é conversa para outro dia.
Então porque é que se alguém disser: “Olá, eu sou a Joana e sou enóloga” toda a gente lhe aperta a mão, e se disser “Olá, eu sou a Joana e sou prostituta” toda a gente a olhará de lado ou virará as costas?
Existe assim tanta diferença entre a prostituição e outra profissão qualquer?