Pronto para sair de casa.
O beijo de despedida seria, em princípio, um encosto de lábios.
Adivinhar a distância, ainda que por horas, faz com que o apetite ressurja.
Prolongo o beijo, uma mão na nuca agarra-lhe o cabelo. A outra mão vai em busca de botões, fechos e outros entraves. Desaparecem.
Desaparece, igualmente, a minha boca da dele.
Desço ao longo dele e deixo-o atónito. Breve mirada ao relógio de pulso e adivinho-lhe o pensamento: "Que se lixe. Eles que esperem!"
É sem pudor que me exibo nas artes linguais e é sem a mínima consideração que o manejo sabendo que fica muito excitado a ver-me devorá-lo. Sei do que gosta, sei ao que não resiste, sei que adora estes prazeres rápidos e inesperados aparecidos no meio de qualquer dia.
Segura-me agora a mim na nuca, investe contra mim, sente o calor profundo da minha garganta.
Nem pretende resistir.
Vocifera qualquer coisa - coisa nenhuma - que eu já sei o que quer dizer: "eat me".