É inacreditável com há tanto te deixei ir – ou te foste pelo próprio pé – e como nunca chegaste mesmo a partir. Nunca te foste, nem nunca quiseste sair de cena. Habitas em mim, partilhas casa com o meu novo amor. Partilhas casa com quem me faz feliz, com quem me surpreendeu quando achei que nem por sombras iria precisar de ninguém. Ficaste a morar, escondido, num qualquer alçapão da casa. E eu, tonta, ia deixando alimento, sabendo que ainda por lá andavas e que estava a prolongar a tua estadia em mim. Deliberadamente ficavas, deliberadamente te mantinha. Te mantenho.
Enraivece-me que não sejas para mim, que eu não seja para ti. Queria-te. E tanto, tanto. Não consigo esconder, negar nem apagar que te gosto. Não percebo sequer porquê. Sei apenas que me habitas e amiúde me arrepias. Que sorrio ao ler o teu nome no telemóvel quando o toque do código morse me dá o “s”, o “m” e o “s”:
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Que às vezes te sonho e que quase todas as noites te incluo naquilo que não é reza, mas que é o desejo de que se encontre bem o magote de pessoas de quem gosto. Estás no magote.