15 de abril de 2011

é o fungagá

[Há coisas que me irritam e há coisas que só me fazem confusão.
Esta não é nem duma nem doutra estirpe.
Isto entra no reino da estupidez].

Há coisas que me estupidificam!! Uma delas é aquele tipo de gente que se preocupa muito com os animaizinhos [coitadinhos e cenas], que nem comem carne nem peixe para não os fazer sofrer. [E os legumes/frutos, Hein(z)? Ninguém pensa nos legumes-barra-frutos? Que, pois, também sofrem os nabos1 quando são trincados. Que também agonizam as couves2 quando vão para a panela, tal qual uma lagosta sibilante. Mas okay, não é este o meu ponto e já me desviei do rumo].
A preocupação destas pessoas é tão grande que se fartam de criticar as gentes que maltratam os animais. E «maltratar» pode ser tudo, desde abandonar, não dar beijinhos na boca, não gostar de lambidelas. Ou, como eu, não gostar de ir jantar a casa destes amigos e verificar que existe uma cadeira específica à mesa para esse ser feio, pelado, malcheiroso, encontrado não-se-sabe-onde, abandonado por uma senhora má… e que a minha amiga fez o favor de levar para casa, dar banho, amar e respeitar até que a sarna os separasse. [Ah, e aqui ainda estou a falar do namorado dela.]
Este namorado dela – porque um mal nunca vem só – trouxe acoplado a si um cão daqueles pequenos e de ar esperto – o único com este ar lá em casa, portanto – trazido de um canil porque ia ser abatido e essas mariquices. Um acto bastante digno, digo eu, o de levar um animal para casa, libertando-o da morte próxima.
Agora andam os dois na senda dos “coitados dos animais” e “vil o Homem que não contribui” com o dízimo para as causas dos de quatro patas.
Estamos nós então a comer vegetais – what else? – estufados, guisados, entalados, cozidos e assados e eu, para que a comida me soubesse a alguma coisa, fui ao frigorífico procurar maionese. “Não usamos!!”, dizem em uníssono. “E porquê?”, pergunto eu no mesmo tom… E a resposta foi “Porque leva ovos.”
Eu sei que a malta defende os animais porque eles não se podem defender e tal e tal, mas… os ovos não são animais! Isso não conta!
O problema é que da maionese passou-se ao tema das marcas [brands], que fazem testes em animais, que é uma crueldade, ai ‘nha mãe, pardais ao ninho. E então disseram-me que marcas como a Hellmann’s, Lipton, Oral B, o.b., Dove, Knorr, Pringles, Duracell, Olá, Pantene, Comfort faziam testes em animais. Fiquei estupefacta!
A questão knorr pareceu-me óbvia: tal como não se fazem omeletas sem ovos também não se fazem caldos de “_______” sem “__________”, sendo que “_______” será com certeza “carne”, “frango”, “peixe” ou “legumes”. [E sim, eu compadeço-me com a causa dos legumes].
Destas marcas atiradas para o ar há umas, realmente, que fazem confusão. Desde já, as Duracell. Não me lixem, não me lixem: os animais não levam pilhas [tirando um cão duns indianos que vi ao pé das docas, mas esse dava cambalhotas para trás, fruto da sua relação íntima com duas pilhas AA].
 O uso de o.b. também me faz espécie, nem sei por que raio precisam eles de tampões. Das duas uma: ou é para também poderem ir à praia, andar a cavalo e de bicicleta como nós (mulheres) ou é para apanhar grandes bubadeirões com os tampões enfiados no rabo previamente mergulhados em álcool – é a última moda dos catraios europeus!
Mas de resto, parece-me tudo tranquilo.
Que testes é que se fazem com Hellmann’s? Dá-se uma maionesezinha ao rato a ver se gosta?
Ou serve-se um chá Lipton de Marrocos aos cães, a ver se (a)provam? Escovam-lhes os dentes depois das refeições com Oral B?
Lavam as mãos e a cara às pombas com Dove? Servem-lhes Pringles como snack em vez de milho? Só acho mal se a Guaraná também não acompanhar os testes, porque vai muito bem – e leiam com olhos de ler o que vos escrevo – e repito, vão muito bem umas Pringlezinhas daquelas de sabor alhado com um Guaraná fresquinho.
E mais, e mais? Lavam-lhes o pêlo com amaciador Comfort ou com champô Pantene?, dependendo do fototipo do animal? Pah, cá por mim até acho bem…


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1 Repare-se na subtileza do exemplo, que não recorreu aos “tomates”, reviengando a piada fácil.
2 Outra vez, a esquiva à graçola gratuita, evitando o exemplo “grelos”. 

13 de abril de 2011

às quatro da madrugada

Já num estado avançado de flirt, em que o “fazia-te isto/aquilo/assado/cozido” eram rotinas diárias de atiçamento via sms:
- Achas que é seguro eu ir a essa festa?
- Se tiveres problemas cardíacos é melhor não apareceres porque não trago lingerie.

Tal como previsto, dado o teor da mensagem, ele apareceu. Apareceu para comprovar a inexistência de roupa interior. Apareceu para me levar para a cama. Apareceu porque eu já tinha marcado no meu calendário que aquele era o dia em que ele ia ser devorado.
No meio de muita gente conhecida fizemos o que nos competia e fingimos a mútua indiferença. Trocámos uns olhares, sussurrámos provocações dignas de filme de adultos e tocámo-nos desavergonhadamente em gestos disfarçados de atribulação ou simples falta de jeito.
Os Hendrick’s desapareceram a uma velocidade anormal, que associo a pura ansiedade. Pedi a um amigo que me levasse a casa e despedi-me de toda a gente, inclusive do homem por quem andara a suspirar nos últimos dias – e nesta noite em particular.
Saí e enviei um sms a dar-lhe as indicações para ir ter a minha casa. Presumo que tenha voado até mim porque demorou pouco mais que eu a chegar. Esperei por ele à porta do prédio, do lado de dentro. 
Abri-lhe a porta.
- Sempre deste com isto, hein? – disse, abrindo a porta e afastando-me o suficiente para que não tivéssemos de nos cumprimentar de maneira nenhuma.
- Sim, foi bastante fácil. Desculpa se demorei…


Dirigimo-nos para o elevador. Não tivemos de esperar, visto que ainda lá estava o mesmo em que eu descera. 
Corre a porta – abre-se. 
Entramos. 
Corre a porta – fecha-se. 

[Freeze. Este momento é crucial.
Eu sei porque é que ele está ali, ele sabe porque é que o recebo ali. Estamos ambos fartos de prometer e prever encontros sexuais, de descrevê-los com pormenores vistos, certamente, em filmes. Eu sei que, não tarda, estaremos engalfinhados em coreografias sensuais copiadas, outras só pensadas, outras muito desejadas ou trazidas de boas experiências anteriores. Sei que vou conhecer-lhe a boca, as mãos, a língua, o ventre, o peito, … e, conhecendo-me como conheço, sei que vou proporcionar-lhe um momento-cama digno duma experiência d’A Vida É Bela.]

Inspiro fundo e encosto-o ao espelho do elevador.

pet me

Hoje a minha cama está vazia.
Ontem, livre.
Anteontem, inabitada.

Hoje o meu telemóvel andou silencioso.
Ontem, mudo.
Anteontem, calado.
  
Estou desejosa do seu toque. Que regresse do paraíso e me preencha. Fisicamente. Que me preencha.
Me esgote.
Quero a ânsia do toque, a respiração contra a minha.
Falar com as bocas tangentes, adormecer em colher, acordar com o calor excessivo que os dois corpos produzem, incapazes de se largar.

[Acho que é mais ou menos por esta altura que as pessoas arranjam animais de estimação…]