24 de novembro de 2008

Excepção vs. regra

"A excepção confirma a regra."
Já ouviram esta expressão algures aí, não? O que raio quer dizer?!?!?


Como é que uma excepção pode confirmar uma regra? Pensem sobre isto!!

Uma regra é o que é: o preceito, a norma, a lei.

Uma excepção não confirma nada. Sai fora do caminho, é excêntrica.

Como é que uma algo excêntrico pode confirmar uma disposição? Epah, não pode.

Não há explicação para o verbo “confirmar” nesta expressão estúpida e odeio-a porque não faz sentido.

A excepção faz com que não haja uniformidade. Ou seja, existe uma norma mas não é invariavelmente aplicada porque existe a excepção.

Logo, a excepção não confirma a regra. Não a corrobora. Pelo contrário. A excepção inutiliza a regra. Mata a regra. Acaba com ela, pois mostra como é falível.

A excepção é um desvio, uma condição, uma ressalva. Existe para ser adita à regra e faz dela insuficiente, incompleta. E uma regra incompleta não me parece uma boa regra, pelo menos em teoria.

Reconheço a necessidade de estabelecer salvaguarda a algumas situações específicas, mas essa salvaguarda não pode nem tem como função confirmar a regra, mas alterá-la, definir as condições em que a regra não é aplicável. A excepção enriquece a regra que é pobre.

A excepção clarifica a regra – mas não a confirma!! Not in (y)our lifetime!

Dá as voltas que quiseres ao texto. A excepção não confirma shit.

20 de novembro de 2008

torga

É instrutivo ver os vários retratos que fazem de nós pela vida fora. Com traços lisonjeiros ou desagradáveis, entram-nos sempre pelos olhos dentro como estranhos, a perturbar uma paz que tinha um rosto habitual, familiar, a que estávamos acostumados. À imagem tranquila, sobrepõem-se outras inquietantes que não servem no cartão de identidade, e, contudo, nos identificam publicamente mais até do que a que nele figura. É que não se trata de neutras fotografias. São perfis apaixonados, justos ou injustos, com as virtudes e os defeitos cruamente patenteados.
Quem um dia nos lembrar, é por eles que nos lembra.

Somos o que nós sabemos, e parecemos o que os outros dizem de nós.

19 de novembro de 2008

Não há nenhum sítio no mundo onde gostasse mais de estar, onde me sentisse tão livre e tão segura, do que em cima dos pés do pai a valsar...

17 de novembro de 2008

conta de somar

Dizem que os opostos se atraem! Isso é treta...

Isso é só nas leis da física. Nas leis do físico e do intelecto as pessoas sentem-se atraídas por quem é suficientemente diferente para ser exótico mas suficientemente alike para ser sintónico.


Sentimo-nos atraídos pela pessoa que mais se parece com o homem ou mulher que seríamos se fôssemos do sexo oposto: sentimos admiração por alguém, pela sua perspicácia, inteligência, pelo look ou sentido de humor, pelo modo como encara a vida e os desafios, pela assertividade ou resiliência, pelos pormenores que o tornam distinto… e desde que tenha em comum um qualquer ponto, que pode passar por uma atracção física ou anímica (ou ambas).


Conseguimos, portanto, definir um conjunto de características que nos agradam: "se eu fosse homem cozinhava bem como o Sr. A; lia 5 livros por mês como o Sr. B; era um bon vivant como o Sr. C;" (e podia continuar a usar o restante alfabeto e enumerar mais vinte e três características).


Sentimo-nos, assim, atraídas pelas virtudes que gostaríamos de ostentar se fôssemos do outro sexo. A questão que se põe é que raramente somos aquilo que gostaríamos. Assim, a proximidade que se obtém entre os dois é a soma entre o que o outro é e o que eu gostava de ser – e isto não chega. Baseia-se num facto somado a uma ficção o que torna frustrante o tentar imaginar ou viver as emoções através do par, porque não podemos ou não temos coragem para as viver nós mesmas. É a vulnerabilidade individual que faz com que estejamos constantemente no limbo entre (e retiremos o melhor d') o nosso mundo e as nossas vontades, entre o eu que procuro e o tu que julgo seres.

12 de novembro de 2008

o pé da atleta


Hoje estava no ginásio a pensar: andamos todas à procura de um corpo perfeito, de formas fantásticas que agradem ao espelho. É claro que isto nunca chega a acontecer: quando chegamos a um patamar já só pensamos no bom que vai ser quando chegarmos ao próximo! Então a labuta continua: “insiste, insiste, só mais oito insistências!”.



Fazemos esforços mais-que-desafiantes, arranjamos um novo caminhar – coxo, é certo, mas cheio de estilo. E podemos sempre dizer, cheias de orgulho, a quem nos perguntar: “é uma lesão muscular!”.




(e agora vou parar de falar no plural!)




Eu farto-me de batalhar naquele asilo a que muitos chamam “ginásio”. E agora, para além de levar, amiúde, uma sova de exercício físico, ainda fico com os pés todos lixados?!?! Eu?, com os pés assim? L Não pode ser! Habituada a ter pezinhos de seda, delicados e sensíveis, vejo-me com… bolhas? E a próxima etapa: calos? NO WAY!




Só me apetecia chorar. Não de dor física, mas daquela lancinante que se finca só de olhar para os meus pés… and then it hit me: eu estava a ter o privilégio de saber em primeira mão (pé) o que é ter uns pés de desportista… ou seja, de atleta!! E fiquei intrigada: porque é que é bom ter corpo de atleta e mau ter pé de atleta?




Não faz sentido!! Sigam o meu raciocínio:




Um atleta tem ombro de atleta, peito de atleta, abdominal de atleta, glúteo, coxa e gémeo de… atleta!!! (pois claro...)




Então e o , o pé é de quê??? É de picheleiro?!?







5 de novembro de 2008

Quem está frita da cabeça põe o dedo no ar!!!

(Quem está frita da cabeça põe o dedo no ar!!!)

De mim para mim:

Não querias evitar compromissos? Pois aí tens, minha menina! Tal e qual como andavas a pedir!

Cuidado com o que desejas, pois pode tornar-se realidade.

(Oh nãaaaaaaaaaaaao!)

É assim mesmo: pus-me a jeito para os não-compromissos, procurei a minha liberdade e, agora que a tenho, apetecia-me um bocadinho de compromisso. Só um bocadinho pequenino. O suficiente… o suficiente para nada!!

(Que raiva! J)

Não estou apaixonada, pah! (Vêem como sou boa a convencer-nos disto?).

(advertência: ler devagar senão não faz sentido!)

Estou só a deixar-me ir.

Nunca tinha ido ao sabor da corrente, nunca tinha deixado de dominar uma situação, mas como és bem espertinho já deves ter percebido isso, logo estás a dar-me exactamente aquilo que eu preciso... e que não sei se quero. E, querendo, só aceito porque és tu a dar-mo – isto porque já percebi que te permito ousadias que não julguei ser possível permitir a alguém. Fui clara? Não?

Bolas, pois não…

Isto confunde-me…

De facto o compromisso não me faz falta!!! Já tu...

Aguças-me o interesse, a vontade de te conhecer mais e mais, de rir contigo, de te arrancar palavras... e sabes disso. De manhã és mais falador; parece que te familiarizas à noite, evoluis de madrugada e de manhã já dizes aquelas coisas a que só tu dedicas tempo a pensar e que me deixam a pensar: "Onde é que estacionaste a nave espacial?". E lá está, eu pelos vistos sou de Marte, por isso sei que daí não vens!! Deves vir dum desses planetas novos cujo nome é ainda "científico", ou seja, ainda não se decidiu que filha nerd de que cientista nerd dará nome ao astro. Assim, baptizar-te-ei (tira o "p" se já estiveres na era pós-acordo ortográfico) 2007PtCb04 - este não é um número mecanográfico, ok? Se insistires posso chamar-te He-man – parece que agora é fashion atribuir nomes de personagens aos planetas.

Retomando a outra linha de raciocínio, entretanto vais e vens e vais, desapareces para a tua vida e voltas à minha de quando em vez.

E, ao que consta, foi exactamente isto que pedi, sim senhor.

Pedi, não a ti. Pedi! Desejei para mim.

Não procuro um nós, quero um tu&eu. E é isso que tenho – mais coisa menos coisa…! Só queria ter o "tu" mais vezes!

(Terror)

4 de novembro de 2008

rimmel

Trago o rimmel esborratado de todas as horas que passáramos a dançar e a rir.
Quando saímos juntas fazemos sempre asneira: abusamos no álcool, deixamos uns tipos aproximarem-se de nós e subornarem-nos com bebidas e usamos os nossos “alias”.

Ainda fazemos isto tal como quando tínhamos 18 anos e começámos a sair sem os tios chatos, sem as horas marcadas. Não achas que já tens idade para ter juízo?

Agora, passados tantos anos, estás noiva?

Eu devia ter desconfiado quando recebi este convite para sair. “Nós as duas, como nos bons velhos tempos!”, dizia a SMS!

Quando anunciaste que querias casar fiquei assustada: um tipo da night, a quem [em tempos] deras o teu nome falso e um número de telefone inventado? O gajo só podia ser estúpido em querer casar com a miss independence!

Foste-o, pelo menos, até ao dia em que te deixaste apanhar pelas malhas da paixão. Não tínhamos combinado que não nos íamos deixar arrebatar no matter what?? Quantas vezes nos prometemos eternamente solteiras até aos 35? Não era necessário despachares o assunto assim…

Ao contrário do que possa parecer estou muito feliz por ti, cabra. Não acredito propriamente na instituição “casamento”, mas acredito no desejo de ambos partilharem o vosso love com as famílias e os amigos.

E lá está, será eterno enquanto durar. É assim que faz sentido e é só assim que concebo as uniões.

Ainda temos, tu e eu, um fim-de-semana de reflexão juntas. Já daqui a uns dias vamos fazer uma escapadela à moda antiga. Foste tu que pediste e marcaste o weekend. Queres despedir-te de mim properly, certo? “De mim” como sinónimo da vida de solteira, da vida de mulher descomprometida e tonta. Despedir-te dos não-compromissos. Bem, talvez eu esteja a levar isto demasiado a sério por causa da minha gamofobia [J medo do casamento].

Estou feliz por ti, por vocês.

Talvez esteja triste por mim, por não viver iludida e feliz, com a ideia de ver a vida sentimental resolvida [e, portanto, fechada e-não-se-pensa-mais-nisso] e assim poder dedicar-me a outra coisa qualquer.

Merda, acho que vou chorar…

Agora o rimmel está a desvanecer-se totalmente e escorrem-me lágrimas pretas. Não me apetece de chorar, nem que seja assim, por bons motivos.

Este rimmel é tão resistente à água como tu às paixões.

(“Water resistant” my ass)!

1 de novembro de 2008

faz frio aqui onde me levanto

Hoje faz frio. O Outono que tanto esperava finalmente apareceu!
Quando acordei ainda havia brasas na lareira. Fiz o que sempre faço. Abri a porta morna da lareira e brinquei com o fogo.
Fico assim, letárgica, durante uma hora ou isso, a absorver o calor que resta naquelas brasas. Adoro acordar, descer (descalça e arrepiada) as escadas, fechar-me na sala e derreter-me em frente à lareira.

É um bom ritual. Acompanha-me um chá. Invariavelmente, um chá. Apoio o PC nos joelhos e encosto-me no sofá a escrever aquilo que se vai passando comigo.
Como sou sempre a primeira a acordar (mesmo quando - ou especialmente quando - tenho visitas) tenho tempo suficiente para escrever, passar revista à madrugada e juntar os meus pozinhos de perlimpimpim mentais. Adornar. Limar.

Aproveito e vejo uns desenhos animados destes actuais que não me dizem nada mas que têm sonoridades estranhas q.b. para manter o cérebro desperto, sem desviar a atenção. É o ruído necessário para evitar o silêncio.
Depois da escrita, o banho. Inevitavelmente, o banho. Escrever depois do banho seria perder a acuidade que finjo.

O banho leva-me (lava-me) as ideias, faz um reset emocional. Se, depois do banho, mantiver os sentimentos no sítio, se continuar com vontade de voltar para a cama, aninhar-me no calor e embrenhar-me nos sonhos de quem lá dorme, quer dizer que estou metida nisto com sentimentos. Bolas, não vinha nada a calhar!

É bom o sábado de manhã aqui. Volto lá acima e corro por todas as divisões inabitadas, carregando nos interruptores dos estores. Com a arte de uma atleta estúpida consigo pô-los todos a subir ao mesmo tempo.

Fico a meio, no topo das escadas, a apreciar o sol a nascer cá em casa. Só agora é oficialmente dia.